O começo de post foi essa baita digressão apenas para dizer que este não é um texto sobre guitarras ou discos com uma bela guitarra. Ela até está lá, em alguma faixa perdida, mas o grande destaque de Rockin' the Suburbs é mesmo o belíssimo piano do Ben Folds. No próximo parágrafo, mais sobre esse cara que, na minha opinião, é um dos melhores compositores pop da atualidade.
Durante os anos 90, antes de virar artista solo, Folds era o líder do Ben Folds Five, que na verdade era um trio. A banda acabou sem eles terem lançado sequer um disco ruim – se você pegar qualquer um dos quatro álbums da banda, é possível encontrar no mínimo quatro pérolas que vão ficar na sua cabeça. Outra coisa impressionante é o peso que a banda conseguia, contando apenas com bateria, baixo e piano. Existem canções de pegada quase punk, em que Folds consegue aliar peso, letras irônicas sensacionais e sim, uma boa dose de virtuosismo, já que suas linhas no piano são sensacionais, ao mesmo tempo que são assobiáveis e descomplicadas.
Puxa vida, mas quer dizer que eu estou falando bem da banda e o disco não é da banda? É isso mesmo. Isso é só para você ficar com vontade de ir atrás do resto. O primeiro disco solo dele é tão bom que até parece uma coletânea de sucessos. Você não vai ter vontade de pular uma música... Quem sabe apenas a faixa que dá título ao disco, que é um chicletinho exatamente de propósito, uma piada extremamente ácida que tira uma da classe média americana e do show business, no melhor estilo Simpsons:
eu tenho merda na cabeça
e é tanta que nem dá pra explicar
tão sozinho na minha tristeza de garoto branco
vá curtindo enquanto a banda reclama
(...)
detonando no subúrbio
assim como Michael Jackson fez
detonando no subúrbio
só que ele era talentoso
(...)
eu estou puto, mas sou educado demais
para reclamar quando alguém fura a fila do mcdonalds...
...é claro que em inglês isso tudo rima e soa melhor...
Essa música não tem piano, mas não tem problema, ele tocou todos os instrumentos do disco mesmo.
Momentos geniais: “Carrying Cathy”, triste, comovente, essa é uma balada sobre suicídio; “Losing Lisa”, para aqueles momentos em que você sabe que fez coisa errada, ou disse a coisa errada; “The Ascent of Stan”, que tem uma das atmosferas mais hipnóticas que eu já ouvi, Fred Jones Part 2, que fala sobre um jornalista da velha guarda que é demitido; “The Luckiest”, uma prova de que sensibilidade é a alma da música, essa faixa tem um piano que, por si só, já dá vontade de chorar, só que mais uma vez, Folds mandou bem na letra... E é claro, eu não poderia deixar de citar “Not the Same”, sobre um sujeito que, em uma festa, tomou um ácido, subiu numa árvore, encontrou Jesus e nunca mais foi o mesmo.
Bom, o resto (sobraram poucas) também é muito acima da maioria das coisas que surgem por aí e que a gente acaba automaticamente assimilando como pop. Isso é pano pra uma manga gigantesca, mas desse jeito o post vai ficar grande demais. Então, pare de fazer o que você está fazendo e baixe esse disco, seu velho cão safado.
Ficha Técnica
Ben Folds – Rockin' the Suburbs
2001
"Annie Waits" – 4:17
"Zak and Sara" – 3:11
"Still Fighting It" – 4:25
"Gone" – 3:22
"Fred Jones, Pt. 2" – 3:45
"The Ascent of Stan" – 4:14
"Losing Lisa" – 4:10
"Carrying Cathy" – 3:49
"Not the Same" – 4:17
"Rockin' the Suburbs" – 5:00
"Fired" – 3:49
"The Luckiest" – 4:44
2 comentários:
André, vou tentar!
Se eu gostar ou não, te falo na próxima opinião sincera!
tudo bem, mas comece ouvindo carrying cathy e pense numa trilha de desenho animado.
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