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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Cavalera Conspiracy: peso fraternal

Nenhuma banda brasileira fez tanto sucesso internacional quanto o Sepultura. Álbuns como os excelentes Arise, Chaos A.D. e Roots elevaram a fama de Max e Iggor (à época com apenas um “g” no nome) Cavalera, Andreas Kisser e Paulo Jr. a ponto de estarem a pé de igualdade com bandas como Pantera, Slayer, Megadeth entre outros montros sagrados do metal. A decadência da banda - que ainda prometia muito - começou com a inesperada saída do guitarrista e vocalista Max Cavalera, em dezembro de 1996.


Os motivos da briga e como o Sepultura seguiu depois da saída de seu principal compositor não interessam neste post, pois é flagrante que a banda perdeu importância (e, na minha opinião, qualidade) e Max, com sua nova banda, Soulfly (que é mal rotulada como new metal), até alcançou algum sucesso comercial, mas acabou se distanciando do mercado brasileiro e também perdeu qualidade.

Depois disso, nunca mais o Brasil conseguiria lançar uma banda de tanta relevância internacional. E nem vem que não tem, que o sucessinho do CSS e do Bonde do Role é incomparável ao que foi o Sepultura. Muitos alegam (e eu entre eles) que isso aconteceu quando os irmãos Cavalera se separaram. Iggor é um monstro na bateria, que pode ser comparado com os grandes nomes do metal no instrumento, como Dave Lombardo e Vinnie Paul Abbot, mas não segurou a banda sem a pujança e a, com o perdão da expressão, tosquice de seu irmão Max. Já os outros membros, também não tinham o mesmo apelo: Andreas é muito técnico, mas não compunha tão malévolamente bem para o metal, Paulo Jr. só tem tosquice e Derrick Green, que entrou para substituir Max nos berros guturais, simplesmente nunca foi tão bom quanto seu antecessor.

Enfim, por isso que quando eu soube que Max e Iggor voltariam a tocar juntos era sinal de alguma coisa muito interessante acontecendo. Assim que descobri que os irmão voltariam a tocar sob o nome de Cavalera Conspiracy, procurei o myspace desesperadamente. A página existia, mas estava sem músicas. Motivo: eles estavam em estúdio. Poucos meses depois já estavam disponíveis a música que dá o nome ao primeiro disco, “Inflikted”, e o single “Sanctuary”. Pirei.




O som me lembrou o Sepultura, mas com algumas mudanças, é tão pesado quanto, mas mais claro, nítido. Um tapa na orelha sem dó nem piedade. A bateria do Iggor Cavalera soa quase hardcore, mas com a técnica do metal e muita dinâmica, que dá grandes contrastes às músicas. As guitarras soam como toda boa guitarra de metal deve soar: percussivas, com riffs marcantes e dissonantes e, principalmente, com muita distorção. Verdade que os solos de Marc Rizzo, que também é do Soulfly, não são tão legais quanto o do Andréas Kisser, principalmente porque destoam do peso do Cavalera Conspiracy por serem muito, hum, técnicos e utilizarem escalas até um pouco exóticas, orientais. Deveria ser tudo porrada, o Kerry King do Slayer deveria estar destilando um de seus não-solos sem escalas e cheios de notas. Mas nem tudo é perfeito. E como em toda boa banda de trash metal, o baixo de Joe Duplantier é inaudível e as letras são uma merda. Mas isso é muito metal e não incomoda aos mais acostumados ao estilo, que, em vez de repetir "amor" a qualquer verso, repete "morte", "doença", "sangue" e outras palavras menos singelas.

Comprei hoje o disco e viciei. Inflikted não perde o foco nunca, é um soco no estômago do começo ao fim, é o disco perfeito para esse retorno fraternal, nenhum fã de Sepultura dos bons tempos pode colocar defeito.

Abaixo está o assustador clipe do primeiro single, "Sanctuary". Ao meu ver é um dos melhores clipes de 2008, já que uma criatura deformada matando a galera no set de filmagem do próprio clipe tem tudo a ver com o som da banda hehe. Mais abaixo, o indispensável disco para download (olha que esse download vem do disco original com qualidade máxima para um mp3). Ouçam alto!









Ficha técnica



















Inflikted - Cavalera Conspiracy
Lançamento original: 24 de março de 2008
Duração: 43:31
Produtor: Max Cavalera
Gravadora: Roadrunner Records



Músicas para download

1. "Inflikted" - 4:32
2. "Sanctuary" - 3:23
3. "Terrorize" - 3:37
4. "Black Ark" - 4:54
5. "Ultra-Violent" - 3:47
6. "Hex" - 2:37
7. "The Doom of All Fires" - 2:12
8. "Bloodbrawl" - 5:41
9. "Nevertrust" - 2:23
10. "Hearts of Darkness" - 4:29
11. "Must Kill" - 5:56

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Virada

Bom, eu posso falar sobre o que eu vi e ouvi e, partindo do tamanho do happening que é a Virada Cultural, tirar minhas chatas conclusões que não servem para muito – já que cada um tem idéias próprias sobre cada coisa por aí. Vi três shows inteiros: Mutantes, Fernanda Takai e Jorge Ben Jor. Então vamos rapidamente a eles, apelando para minha memória (vou ser rápido).

    Mutantes, no palco São João com Aurora, às 3 da manhã.

Bom setlist, e a platéia animadíssima para ver ao vivo aquilo que muitos só conhecem em disco. É verdade, não é a formação original, mas sou obrigado a dizer que, depois de ver o sempre preciso Sérgio Dias comandando a farra, o banda tem uma performance digna de aplauso.

O único problema: não gosto de ficar na frente, esmagado. De onde eu estava, o som estava um pouco embolado, principalmente a cozinha. Ah, eu estava ali do lado do guindaste que pendurava acrobatas - legal aquilo, né?

    Fernanda Takai na palco Meninas, às 17 horas do domingo.

    Confortavelmente instalado ali na calçada, vi um pequeno belo show. O álbum com canções da Nara Leão já é uma das melhores coisas que ela fez, e com o auxílio de uma banda sensacional (que contava com o John do Pato Fu disfarçado na guitarra). As versões “takaianas” ficaram sensacionais por conta das texturas e arranjos de teclado, guitarra, baixo, bateria... é um olhar bastante pessoal e novo, em cima do que poderia facilmente se transformar em um disco chato de covers – e conseqüentemente o show. Ficou longe disso, e o som estava muito bom.

    Ouve ae ó: http://fernandatakai.wordpress.com/

Jorge Ben Jor, no palco São João com Aurora, às 18h do domingo.

Lotadão, e um cara bem loco tocando trompete ali do lado (às vezes ele acertava a nota). Concordo com quase tudo que Daniel Marques disse sobre o show aí embaixo, mas não acho tão grave o problema da levada, até porque o próprio Ben Jor deve ter uma consciência muito grande de que um show dele, pra fechar a festa precisa ser animado até o fim. É um mecanismo, uma dinâmica para que a performance saia radiante do começo até o final. Som excelente, mas eu gostaria de saber de quem são os enormes aparelhos que garantiram a potência sonora.

No final, foi bem bom - sem contar que foi tudo tranqüilo, sem briga, tiro, porrada... eu pelo menos não vi nenhuma. Você viu? Conte pra nós. Tem fotos? Manda ver. O clima no geral estava sensacional e é verdade que o centro está ficando cada vez mais bonito, ou seja, como ele era no tempo em que os homens falavam com os animais.

É isso aí. Ah, e um abraço para Mountain View!

Uma empolgante orgia cultural

Acabado, estirado no sofá, os olhos lacrimejando de sono, consegui achar uma palavra para definir o que foi a “minha” Virada Cultural. Empolgante! Tudo bem, vi pouco, vi os shows mais batidos do programa e, mesmo assim, achei um evento fantástico. O centro de São Paulo impressionou: a iluminação criada especialmente para as 24 horas de orgia cultural era perfeita, a organização deu baile nessa edição e não teve confusão de maiores conseqüências, nenhum corre-corre. Vale a pena dar uma olhada na galeria de fotos do UOL.

Podem até me chamar de cafona, brega ou saudosista, mas achei incrível ver tanta gente mobilizada para curtir um som, assistir a uma peça ou simplesmente tomar todas e aproveitar a festa. Um festival gratuito como esse transcende o papel de ser apenas mais um deleite para o ouvinte. Ele passa a representar um movimento coletivo que reúne gente de todos os tipos para vivenciar uma experiência artística sem precedentes. Por falar em todos os tipos, quanto estilo bizarro existe nesse mundo! Achei engraçadíssimas algumas figuras na Virada.

Chega de viagem de bar e vamos aos pontos altos.


- Sábado consegui me levantar da cama à meia-noite para correr ao centro e pegar um lugarzinho no show dos Mutantes , um dos mais disputados desta edição. O que eu ouvi de reclamações do nosso colunista André sobre o som do palco São João não é brincadeira... Somente Sérgio Dias e Dinho Leme da formação original estão na banda, mas mesmo assim eu tinha que ouvi-los ao vivo pelo menos uma vez na vida. Bom aproveitar essa oportunidade, pelo menos era de graça.

Sérgio Dias, considerado por ele mesmo o maior guitarrista da Via Láctea, estava em forma: cantou bastante, tocou bem e até colocou no repertório “Uma pessoa só”, do disco O A e o Z. Bom, vieram as reclamações do som. Nessa, o André ganhou. Realmente, estava um desastre. Quem ficou perto do palco não chiou, mas quem ficou mais afastado ouvia a bateria, a voz nasal de Sérgio Dias e um ou outro grito da Bia Mendes, nova vocalista da turma.


Eles tocaram a nova música, “Mutantes Depois”, que não empolgou muito não. Gostei do discurso de abertura do Sérgio Dias, mais uma piração naquela história de que todos somos “uma pessoa só”.

“Estaremos agora entregando a todos vocês a nossa música, a primeira de muitas que estamos compondo. Chama-se Mutantes Depois. Ela é sobre vocês, o nosso público, os reais mutantes de cuja energia somos feitos como uma pessoa só”. Achei legal isso.


- Os sons de domingo começaram mais cedo. Depois de uma pausa rápida para recuperar a cabeça, uma correria para pegar o show de Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiros e Márcia. Eles recriaram o famoso show O Importante É Que Nossa Emoção Sobreviva, que eu desconhecia. Achei fantástico. O pessoal não estava muito entrosado, mas o som era perfeito no Teatro Municipal. Tudo bem, isso aí é assunto que o Vermute pode aprofundar.


Depois, uma rápida passagem no palco da Canja Rock-Blues. Gostei da iniciativa do pessoal lá. Uma verdadeira sessão jam, sem ensaios e sem frescuras: não me lembro de quem estava no palco, mas tocaram a meio-que-já-batida “Hoochie Coochie Man” e um boogie de um gaitista paulistano que eu não sei o nome.

Para encerrar a orgia, Jorge Ben no palco da São João. Achei o show incrivelmente empolgante. É claro que algumas coisas foram irritantes: o público se esgoelava nas músicas mais conhecidas, como “Taj Mahal”, “W/Brasil” e “Mais que nada”. Quando ele emendou três músicas da Tábua de Esmeraldas, um povo mais quieto e menos feliz. “O Namorado da Viúva”, “Menina da Pele Preta” e “O Homem da Gravata Florida” foram os pontos altos.



Nesse show o som estava fantástico. O Jorge Ben, infelizmente, só tem uma levada agora. A Virada Cultural é o melhor evento cultural da cidade de São Paulo e deveria ser realizada em duas edições anuais. Achei incrível.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Nine Inch Nails: o peso nunca dorme

Seguinte, primeiramente gostaria de me desculpar com meus colegas de Ferrugem Nunca Dorme pelo meu breve sumiço. Não tentarei me justificar, parei de colaborar por pura preguiça. Mas estou de volta, e para postar coisas muito diferentes do que vem sendo postado (tudo excelente, por sinal).

A verdade é que estava faltando um pouco de peso aqui no Ferrugem e não podemos ignorar que, depois do Black Sabbath, o som pesado passou a ser uma característica patente de, senão a maioria, boa parte das bandas de rock. Tomei para mim a responsabilidade de mostrar aos passantes deste querido blog o melhor do som distorcido, sem nenhum tipo de preconceitos e evitando rótulos bestas (doom metal, new metal, trash metal e por aí vai). Porque o que é bom é bom (momento sabedoria vazia).

Vou começar com um disco de 2005 que não é considerado um dos pontos altos do seu autor (ou banda?) e, por isso mesmo, é bastante subestimado. Vamos dar nome aos bois. Você, meu caro amigo, esta prestes a entrar no mundo de With Teeth, do Nine Inch Nails.

O Nine Inch Nails, banda de um homem só (o grande Trent Reznor)
é a típica banda que muita gente já ouviu falar, mas pouca gente ouviu propriamente. Eu, por exemplo, conheci o(s) cara(s) ao vivo, no Claro Q É Rock, e saí absolutamente embasbacado com a performance, tanto musical quanto visual. Foi, de longe, o melhor som de show que eu já tinha ouvido. Depois eu soube que o Reznor é super caxias com a qualidade do show dele e leva o próprio equipamento de som e luz em todas as turnês que faz. Estava explicado.

A turnê que vi promovia o With Teeth, talvez o disco mais acessível entre todos do NIN, com
músicas bastante melodiosas e intensas e nem sempre com a guitarra super distorcida que caracterizou o seu trabalho mais aclamado, The Donward Spiral, de 1994. Por esse motivo, muitos fãs xiitas (sempre eles) acharam que Reznor tinha acalmado, deixado o peso de lado. Certamente essa foi uma leitura muito superficial do som do disco, já que as letras são absolutamente atormentadas e as músicas mais calmas carregam o mesmo peso de sempre, só que, dessa vez, na atmosfera. Um outro dado do disco que merece ser lembrado é que todas as baterias acústicas foram gravadas pelo grande e onipresente Dave Grohl, que é chapa de Reznor desde os anos 90.

Falando mais propriamente do som, o NIN mistura o rock e metal com batidas eletrônicas (desculpa, Daniel, mas é som de computador mesmo) o que deixa a música com um certo clima apocalíptico. Tipo (momento nerd on), se você já jogou RPG e ouviu falar no universo cyberpunk, o NIN é a trilha perfeita para aquele clima (momento nerd off). Se você nunca jogou RPG, imagine o filme Blade Runner. O NIN é mais ou menos o que tocaria uma casa noturna daquela Los Angeles destruída, servindo de fundo para um strip tease de uma menina de cabelo roxo. O melhor é ouvir, de qualquer maneira.

Para vocês terem noção do que é o NIN ao vivo, deixo abaixo o vídeo da banda tocando uma das melhores músicas do With Teeth, a homônima "With Teeth". Reparem na qualidade do som da bateria, que tem uma linha simples mas muito criativa e marcante. Vejam também como é importante e maravilhosa a iluminação do show, que quase não mostra a cara dos músicos, mas é totalmente sincronizada com a música. Outro destaque dessa música é o momento calmo do piano em contraste com o refrão, barulhento até dizer chega. Mais abaixo ainda deixo o disco para download, que é o que interessa.

PS: se você faz muita questão de rótulos, o NIN é conhecido como Industrial Rock ou Industrial Metal.




Ficha Técnica


With Teeth - Nine Inch Nails

Lançamento original: 27 de abril de2005

Duração: 56:05

Produtor: Trent Reznor e Alan Moulder

Gravadora: Interscope/Halo 19


Músicas para download

  1. "All the Love in the World" – 5:15
  2. "You Know What You Are?" – 3:42
  3. "The Collector" – 3:08
  4. "The Hand That Feeds" – 3:32
  5. "Love Is Not Enough" – 3:41
  6. "Every Day Is Exactly the Same" – 4:55
  7. "With Teeth" – 5:38
  8. "Only" – 4:23
  9. "Getting Smaller" – 3:35
  10. "Sunspots" – 4:03
  11. "The Line Begins to Blur" – 3:44
  12. "Beside You in Time" – 5:25
  13. "Right Where It Belongs" – 5:05

PS2: pra ninguém falar que o Ferrugem só vive do passado, aconselho a vocês darem uma assistida no excelente clipe da mais nova música do NIN, "Discipline". A música é bem dançante, mas na minha opinião não está entre as melhores coisas deles. O Trent Reznor está ultimamente postando todas as músicas que compõe nesse endereço aqui e, além disso, quem diria, ele bloga haha.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A dureza de Leonard Cohen

O site oficial não confirmou ainda. Mas, um blog bastante confiável de um jornalista do Estadão, Jotabê Medeiros, avisou: Leonard Cohen é uma grande promessa para shows em São Paulo e falta apenas fechar os valores para que o canadense de voz grossa aporte em terras brasileiras. Achei ótima a notícia, mas tenho ressalvas. Ultimamente tenho tido dificuldade em ouvi-lo. Suas músicas sempre possuem uma textura brega, um sax invariavelmente com som de motel... vai saber o que ele tocará aqui!

Mas, como a notícia ainda não pode ser 100% confirmada, fico apenas na expectativa. Talvez por causa disso, resolvi dar mais atenção a um disco que achei formidável na hora que ouvi pela primeira vez, mas que agora ganhou outros significados para mim. Em 1967, fugindo da maluca onda dos hippies e suas sonoridades espaciais, Leonard Cohen lançou seu primeiro disco, The Songs of Leonard Cohen, com mais de 30 anos! Talvez em função da idade, é um trabalho muito maduro, sustentado por metáforas cuidadosamente escolhidas e por uma linha de violão que é a expressão de um antigo e já perdido folk. É um álbum muito gostoso de ouvir - os arranjos de voz contam com uma moça, que, meu Deus, devia ser a pessoa mais linda do mundo... (alguém aí sabe o nome dela?). É perfeito e simples.

Misturando mais coisa nesse post, que ainda não consegui definir se é noticioso ou se é apenas mais uma resenha, queria falar de um filme de faroeste que utilizou em sua trilha sonora três músicas desse mesmo disco do Leonard Cohen. Andei conversando com amigos fanáticos do E-digo-mais (acesse, vale a pena!) e todos os seus membros não o conheciam. O filme no Brasil ganhou o nome de “Quando os Homens são Homens” e mais tarde teve o título “Jogos e Trapaças” acrescentado. O original é bem mais simples: “McCabe & Mrs. Miller”.

Warren Beatty, de “Bonnie e Clyde”, é um jogador de poker que decide desbravar uma pequena e pobre cidade, localizada no limite da fronteira entre Estados Unidos e Canadá. O forasteiro decide abrir um bordel e para isso compra (!) várias moças caridosas para trabalhar em seu novo estabelecimento. Percebendo a oportunidade de crescer em sua profissão, a experiente prostituta Mrs. Miller (a belíssima Julie Christie, de “Doutor Zhivago”) propõe uma parceria com McCabe. A notícia de que ambos prosperaram com o negócio logo cai na boca do manda-chuva da região, um durão que comanda uma equipe de mineradores: sujeira! A partir daí, o antes naturalista filme do aclamado diretor Robert Altman transforma-se em uma genial caçada psicológica e política. Alguém, sempre, precisa ceder. Nos westerns, geralmente essa equação é movida pela força da pistola.




Se por acaso assistirem ao filme, prestem atenção nas belíssimas músicas de Leonard Cohen, que sustentam a trama de maneira brilhante. A voz dura do canadense é um belo suporte para a dureza da terra, fria e lamenta, da cidade antes tediosa e que, com a chegada de um forasteiro, vira um caldeirão prestes a borbulhar. “Winter Lady”, “The Stranger Song” (minha favorita) e “Sisters of Mercy” foram as escolhidas por Robert Altman para compor seu filme. Vale a pena!

Ah, só mais... Leonard Cohen é famoso por compartilhar suas músicas em trilhas sonoras. Outro exemplo grandioso, na minha modestíssima opinião, é no filme "Assassinos por Natureza", do ex-bom-diretor Oliver Stone. "Waiting for a Miracle" e "The Future" são de pirar.

Ficha Técnica do filme




Título: Jogos e Trapaças – Quando os Homens são Homens
Título original: McCabe e Mrs. Miller
Lançamento: junho, 1971
Diretor: Robert Altman
Atores: Warren Beatty (McCabe) e Julie Christie (Mrs. Miller)
Duração: 120 min

Ficha técnica do disco


The Songs of Leonard Cohen – Leonard Cohen
Lançamento original: dezembro, 1967
Duração: 41:09
Produtor: John Simon
Gravadora: Columbia

Músicas para download

1. Suzanne – 3:48
2. Master Song – 5:55
3. Winter Lady – 2:15
4. The Stranger Song – 5:00
5. Sisters of Mercy – 3:32
6. Song Long, Marianne – 5:38
7. Hey, That’s No Way to Say Goodbye – 2:55
8. Stories of the Street – 4:35
9. Teachers – 3:01
10. One of Us Cannot Be Wrong – 4:23

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Podcast #2 - O Besouro George

Taí, você não pediu e nós fizemos - agora com algumas melhorias técnicas. Nesse novo programa, um pouco de George Harrison e nossa sugestão de discípulo. Divirta-se.


terça-feira, 22 de abril de 2008

Eric Clapton no berço da coisa toda

É fácil gostar de Eric Clapton. Ele é um guitarrista sensacional, que sabe dosar bem o quanto deve tocar. É um compositor que soube aliar como poucos o sentimento do blues a clima mais roqueiros, sendo versátil, honesto e inegavelmente pop quando quis ser. Tem um bom nome e uma boa presença de palco, sempre elegante, ainda que, muitas vezes, não soubesse muito bem o que estava fazendo por conta de doses homéricas de cocaína ou álcool... ou heroína. Sua voz só melhorou com o tempo. Tem uma história digna de um verdadeiro blueseiro, cheia de encruzilhadas e dramas pessoais. Ganhou uma cacetada de Grammys por conta de um dos melhores acústicos já feitos, se não for o melhor.

E cá estou eu, postando na verdade um disco que não tem sequer uma música composta por ele, ainda sim, um puta disco.

From the Cradle (ou seja, “do berço”) saiu logo depois do acústico, e trata-se simplesmente de Clapton com uma banda muito boa tocando só musicão de raiz, antigos blues que o ajudaram a formar seu estilo. Ou seja, é mais ou menos um disco essencial pra quem gosta de guitarra e/ou blues e/ou Eric Clapton. Como mais ou menos todas as três coisas estão ligadas, se você não conhece esse disco, não pode fugir mais dele.

Ah, e esse álbum foi gravado ao vivo no estúdio, com um ou dois overdubs adicionais. Dá pra sentir o clima da gravação, ou seja, isso é isso aí mesmo.





Ficha técnica


Eric Clapton - From the Cradle

1994, lançado pela Reprise Records

Duração - 60:10

Produzido por Eric Clapton e Rus Titelman


Músicas para Download


1 Blues Before Sunrise

2 Blues Leave Me Now

3 Driftin'

4 Five Long Years

5 Goin' Away Baby

6 Groaning The Blues

7 Hoochie Coochie Man

8 How Long Blues

9 I'm Tore Down

10 It's Hurts Me Too

11 Motherless Child

12 Reconsider Baby

13 Sinner's Prayer

14 Someday After A While

15 Standn' Round Crying

16 Third Degree



E, neste link, uma entrevista em que ele fala sobre o disco From the Cradle. Aliás, é um mini-documentário muito bom, vale a pena ver até porque é raro ver o cara falando por aí.

http://www.youtube.com/watch?v=16lT5v57DLE

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O eterno Van Morrison

Achei difícil encontrar um jeito de começar esse post. Confesso que a segunda parte dele saiu bem mais fácil. Cara, como falar sobriamente de um disco que surpreende não pela novidade, mas sim por transformar o velho em novo? Acho que é exatamente isso que Van Morrison conseguiu fazer com seu novo trabalho: Keep It Simple, lançando nos Estados Unidos no dia 1º de abril.

Fiquei com a impressão de ter ouvido a voz da sabedoria. Nada de simples nesse álbum: o velhinho voltou a fazer um disco de blues carregado com influências do R&B e no Soul, solto do ponto de vista técnico, já que mantém seu estilo único de cantar com sofrimento, e incrivelmente animado. “That’s Entrainment”, “Song Of Home” e “Behind The Ritual” são os pontos MAIS altos.

Já que as minhas palavras saíram complicadas, deixo aqui uma tradução livre do que foi escrito sobre o disco no site da Amazon (para a versão original, e bem mais poética, escorregue aqui!)

"Em Keep It Simple, Morrison veste todos os trajes como compositor, músico e letrista e prova ser uma pessoa astuta e bem-sucedida como produtor também, escolhendo ardilosamente manter todos os vocais e instrumentos em sua forma orgânica e original (first takes).”

Um puta elogio!

Ficha Técnica


Keep It Simple – Van Morrison
Lançamento original: abril, 2008
Duração: 49:54
Gravadora: Lost Highway

Músicas para download

1. How Can A Poor Boy – 5:43
2. School Of Hard Knocks – 3:44
3. That’s Entrainment – 4:32
4. Don’t Go To Nightclubs Anymore – 4:31
5. Lover Come Back – 5:15
6. Keep It Simple – 3:34
7. End Of The Land – 3:16
8. Song Of Home – 4:12
9. No Thing – 4:31
10. Soul – 3:36
11. Behind The Ritual – 6:59

Sempre à sombra

Esse lançamento fez com que minhas atenções também se voltassem ao passado de Van Morrison. Suas produções recentes, ainda que frutíferas, sempre serão sujeitas a comparações com um dos maiores discos da história da música britânica. Em setembro deste ano, Astral Weeks completará 40 anos de vida. O incrível é que sua atualidade ganha forças cada vez que você o coloca para tocar.

Esse disco foi criado por um processo de fluxo de consciência bastante melancólico: músicas sobre a infância, sobre amores perdidos e amores encontrados, figuras nas paredes que fazem rememorar sensações de mediocridade. Tudo isso está lá, velado sobre a forte voz de Van Morrison, às vezes exagerada na medida certa (sei lá se isso é possível). Ali no ponto, todos os instrumentos trabalham somente para a voz do cantor: ajudam-no cantar a dor, ajudam-no a sentir tudo que está na pele. Por isso, as letras são desconexas, trabalham pelo ritmo. Gosto muito desse trabalho. O baixo de madeira dá uma sensação clássica, ao contrário dos teclados e sopros que conduzem a um caminho moderno. O simples trabalho de violão é essencial e marca as raízes irlandesas do compositor.


É sempre importante lembrar que Astral Weeks foi produzido em um momento péssimo da carreira do criador da estonteante “Gloria”. Van Morrison revelou, anos depois, que passava fome (literalmente) à época das gravações. Além disso, não tinha em sua companhia membros de suas antigas bandas e, sendo assim, as sessões dentro dos estúdios eram realmente para expelir sentimentos. Está aí: visceral, essa é a palavra (já desgastada).

Muitos mitos foram criados em torno deste disco. Principalmente após o cri-crítico Lester Banks afirmar que ele transformou sua vida. O escritor afirma que nunca havia ouvido nada parecido com isso e, depois de tomar diversas pílulas de sei-lá-o-que, sentiu realmente o que era a dor de viver. Na minha opinião tudo bizarro ao estilo de Banks, mas o cara estava certo: não há nada igual a Astral Weeks. Além disso, o próprio nome do trabalho também ganhou conotações místicas, assim como a música “Madame George” - cujo título original “Madame Joy” foi descartado na hora do lançamento - foi tido com um hino a um travesti inglês. Tudo besteira!

Acho a faixa “Ballerina” a mais linda do álbum. “Cyprus Avenue” é a mais inquietante, com suas aliterações excelentes! “They Way Young Lovers Do” é a mais divertida. E a que leva o nome do disco é a mais... foda?

Ficha Técnica


Astral Weeks – Van Morrison
Lançamento original: setembro, 1968
Duração: 46:05
Gravadora: Warner

Músicas para download

1. Astral Weeks – 7:00
2. Beside You – 5:10
3. Sweet Thing – 4:10
4. Cyprus Avenue – 6:50
5. The Way Young Lovers Do – 3:10
6. Madame George – 9:25
7. Ballerina – 7:00
8. Slim Slow Slider – 3:20

Não tem nada a ver com o post, mas deixo aqui uma versão de “Gloria” com o John Lee Hooker. Acho que depois dessa, no mínimo um dos discos alguém vai querer baixar!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O barulho novo do Supergrass

Eles são barulhentos, e ouvi-los parece como se a sensação de beber de uma vez só um copo cheio de Coca-Cola se tornasse sonora. Com uísque. E é difícil achar vírgulas maldosas para falar sobre o Supergrass. Sem nunca ter realmente estourado no mainstream, a música mais famosa dessa banda inglesa é “Alright”, um rock'n'roll de piano no melhor estilo “Lady Madonna”, ou melhor, “The Ballad of John and Yoko”. Foi culpa de um comercial de alguma coisa que eu não me lembro agora. E claro, se você não consegue se lembrar pelo nome ou por minhas referências, você pode automaticamente ouvi-la na cabeça se eu fizer isto aqui: “We are yooouuunnng...”. Lembrou?

Não? Procura no Seeqpod então, porque é muito boa mesmo, eles merecem: www.seeqpod.com

Acontece que pegar um disco do Supergrass significa, geralmente, topar com um álbum recheado de canções muito boas, ora mais barulhentas e roqueiras, ora mais tranqüilas, algo que o termo midtempo resume bem, que é aquela música que não chega a ser lenta, pode muito bem ter mais peso do que uma balada propriamente dita. Graham Nash e David Bowie são mestres nisso. Bom, eu poderia colocar aqui a coletânea que saiu há um tempo da banda para, quem nunca teve contado com o som deles, passar a conhecer os destaques. Acontece que esse é o Ferrugem e eu vou mesmo é botar o novo, Diamond Hoo Ha. Por que? Porque este disco é simplesmente uma compilação de rockões muito bons – eu não vou nem indicar exatamente nada porque é melhor você ouvir e tirar suas próprias conclusões mas, para situar alguma coisa em algum lugar, se comecei o post citando Beatles como referência, eu termino deixando algo de Led Zepellin no ar – não que a banda tenha deixado de lado os ótimos pianos. “When I Needed You” é foda, e tem acho que um Rhodes ali, e não tem como não adorar um piano Rhodes.

Eu disse que não ia indicar nada, mas “Ghost of a Friend” também é sensacional...ao lado da irônica “Whiskey and Green Tea”. É que eu não resisti.


Ficha Técnica


Supergrass – Diamond Hoo Ha


Músicas para download


  1. "Diamond Hoo Ha Man" - 3:26

  2. "Bad Blood" - 3:03

  3. "Rebel In You" - 4:41

  4. "When I Needed You" - 2:31

  5. "345" - 3:39

  6. "The Return of Inspiration" - 3:36

  7. "Rough Knuckles" - 3:25

  8. "Ghost of a Friend" - 3:54

  9. "Whiskey & Green Tea" - 4:16

  10. "Outside" - 3:32

  11. "Butterfly" - 5:11



Aqui, eles no excelente Jools Holland,em fevereiro de 2008, com Diamond Hoo Ha, a própria.

Boogie com o Canned Heat e John Lee Hooker


Parcerias incríveis já marcaram seu espaço na história da música e não vou ficar aqui citando somente para fazer número. Prefiro falar de uma que talvez não tenha ganhado tanta notoriedade, mas também carrega o peso de ser um clássico. Apoiando-se em uma de suas principais influências, a banda californiana Canned Heat convidou John Lee Hooker, um dos guitarristas mais inconstantes do blues norte-americano para uma sessão descontraída (bem ao estilo do cara). O resultado é o disco Hooker ‘N Heat (gravado em 1970), um conjunto de faixas que cobre arranjos tradicionais e consagrados a jams bolados na hora pela galera.


Um bom exemplo do “estado de relaxamento” no qual esse disco foi gravado é “Burning Hell”. No começo da música, John Lee Hooker e o vocalista do Canned Heat se divertem ao comentar se deveriam ou não continuar soltando a mão. Hooker aproveita para elogiar a capacidade de um branquelão em acompanhá-lo com a gaita... vale a pena!

Não dá para contar a história desse disco sem falar um pouco do Canned Heat, banda que alcançou um sucesso razoável no final dos anos 60 – principalmente após grandes apresentações nos festivais de Monterrey e Woodstock –, mas que atualmente não ouço muito por aí. Liderado pelo barbudão Bob “Bear” Hite e pelo guitarrista Alan “Blind Owl” Wilson (também considerado um dos melhores com uma gaita na mão), o grupo seguiu, e talvez liderou, uma tendência bastante forte da época: reviver o blues tradicional. Também coloco para download, o segundo trabalho desses caras: Boogie With Canned Heat, lançado em 1968.



Nesse disco, é engraçado perceber como o forte relacionamento do grupo influencia no som. Exemplo disso é a última faixa, “Fried Hockey Boogie”, uma apresentação cômica de todos os membros da banda: cada um participa da roda “apresentado” seu instrumento, o que resulta em um jam bastante carregado no boogie (ouça também Boogie Chillen, do álbum Hooker ‘N Heat). A minha favorita é “On The Road Again”, que pode ser ouvida no belíssimo filme Na natureza Selvagem. (Se você também curte cinema, dá uma olhada no blog E-Digo-Mais).



Já John Lee Hooker dispensa muitos comentários. Cara! Eu acho esse negão fodido. O estilo limpo de tocar, sem muitos floreios, e o som grandioso que ele arranca de uma guitarra semi-acústica é de dar inveja. Desculpe-me o entusiasmo, mas dê uma chance para o disco Urban Blues, lançado em 1967. Um álbum carregado de clássicos como “Boom Boom” (confira a versão do Yardbirds postada há alguns dias atrás!), “Cry Before I Go” e “Think Twice Before You Go”.


Ficha Técnica



Hooker ‘N Heat – John Lee Hooker and Canned Heat
Lançamento original: janeiro, 1971
Duração: 80:05
Gravadora: Liberty


Disco 1

1. Messin’ With The Hook
2. The Feelin’ Is Gone

3. Send Me A Pillow

4. Sittin’ Here Thinkin’

5. Meet Me In The Bottom

6. Alimonia Blues

7. Drifter

8. You Talk Too Much

9. Burning Hell

10. Bottle Up And Go


Disco 2

1. The World Today
2. I Got My Eyes On You

3. Whiskey And Wimmen’

4. Just You And Me

5. Let’s Make It

6. Peavine

7. Boogie Chillen No. 2


Ficha Técnica




Boogie With Canned Heat – Canned Heat
Lançamento original: janeiro, 1968
Duração: 39:00
Gravadora: Liberty


Músicas

1. Evil Woman
2. My Crime

3. On The Road Again

4. World In a Jug

5. Turpentine Moan

6. Whiskey Headed Woman No. 2

7. Amphetamine Annie

8. An Owl Song

9. Marie Laveau

10. Fried Hockey Boogie


Ficha Técnica




Urban Blues – John Lee Hooker
Lançamento original: 1967
Duração: 27:54
Gravadora: MCA


Músicas



1. Cry Before I Go

2. Boom Boom

3. Backbiters And Syndicaters

4. Mr. Lucky

5. My Own Blues

6. I Can’t Stand To Leave You

7. Think Twice Before You Go

8. Hot Spring Water, Part I

9. Hot Spring Water, Part 2

10. The Motor City Is Burning

11. I’m Standing In Line

12. I Gotta Go To Vietnam


Também aproveito para colocar um ótimo vídeo do Canned Heat. É Woodstock, 1969, e muitos peitos pulando na tela! A música, aliás, é “Going Up The Country”, lançada no disco posterior ao postado aqui: Living The Blues.


terça-feira, 15 de abril de 2008

Promessa é dívida

Caros navegadores, fiquei devendo os downloads referentes ao meu primeiro post aqui no Ferrugem. Pois bem, para baixar o disco Greatest Hits do Bruce Springsteen clique aqui e para baixar o álbum The River, do mesmo músico, clique aqui (disco 1) e aqui (disco 2).

Vejo vocês mais tarde.
...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Podcast #1 - O Estranho Jazz de Guilherme Perni

(talvez isso vá pra frente... dê sua opinião)
Isso aí embaixo nós não sabemos fazer. De jeito nenhum - mas é claro que o Ferrugem tinha que ter um podcast, tão enferrujado quanto ele (e absolutamente informal). Por isso está aí, o primeiro e inaugural programa do "Isso NÃO é um Podcast".
Pra começar, um papo sobre um gênero que nem foi postado aqui ainda, o jazz. O convidade especial, de honra e o único que acabou caindo na nossa armadilha foi o nosso querido colega Guilherme Perni, que sabe tudo sobre isso e adora um vinilzinho.
Três faixas sensacionais completam o esquema: Coltrane com Giant Steps, Nina Simone com Feeling Good e, pra fechar, um som quentinho do forno,a impressionante Sharon Jones com 100 Days, 100 Nights.
Fique ligado.

domingo, 13 de abril de 2008

Do fundo do baú - The Yardbirs

Sabe aquelas preciosidades guardadas no fundo do baú de uma coleção que você não dá a mínima? Engraçado. Eu conheci os Yardbirds, uma puta banda de blues britânico do início dos anos 60, dessa maneira. Meu irmão comprou o disco duplo Smokestack Lightning, uma compilação que une – quase que inteiramente – For Your Love e Having A Rave Up –, logo quando eu estava começando a me interessar por música de verdade. No começo, não dei muita atenção para esses caras de gravata que tocavam um blues carregado na seção rítmica e bastante influenciado pelos grandes nomes do Delta norte-americano.

Depois de um tempo, resolvi dar maior atenção e li no encarte que acompanha o trabalho a seguinte introdução: “Dependendo de sua perspectiva, os Yardbirds foram ou uma nota de rodapé na história do Led Zeppelin e também na história de três dos maiores guitarristas do mundo, ou simplesmente uma das bandas mais importantes dos anos 60, atrás apenas de Beatles e Rolling Sontes”. Prefiro nem comentar!

A verdade é que isso já é o suficiente para você ter vontade de ouvir essa banda. Logo no começo de sua carreira, Eric Clapton se juntou a Keith Relf, vocalista asmático que não possui nenhuma técnica, mas uma paixão incrível, o intuitivo Jim McCarty, seguro com suas baquetas, além de Chris Dreja (guitarra) e Paul Samwell-Smith (baixo) para roubar a cena nos clubes de Londres.

Com Clapton cada vez menos envolvido nas gravações, Jeff Beck foi convocado para assumir o coração da banda e não decepcionou: o imenso sucesso conquistado nos Estados Unidos, aliás, é inteiramente credenciado ao guitarrista, cujo apelido viria a ser “crazy fingers”. Com a saída de Beck, Jimmy Page assume o papel e, obviamente, o nível só aumenta.



Resumindo: o disco Smokestack Lightning cobre as gravações de toda a carreira de Eric Clapton com os Yardbirds, quase toda a passagem de Jeff Beck e o começo promissor de Jimmy Page. Além de uma coletânea histórica (1963-1966), todas as músicas são fodas. No Volume 1, os principais sucessos são “For Your Love”, “Got To Hurry”, “My Girl Sloopy”. Já no Volume 2, que revela maior maturidade dos garotos ingleses, “Still I’m Sad”, “The Train Kept A Rolling” (o MotörHead, alias, fez uma versão até que interessante) e “Heart Full Of Soul” são os pontos altos.


Ficha Técnica




Smokestack Lightning (Vol 1 e 2) – The Yardbirds
Lançamento: 1991
Duração: 38:33 (Vol 1) e 55:50 (Vol 2)
Gravadora: Sony

Vol 1

1. For Your Love – (G. Gouldman)
2. I’m Not Talking – (M. Allison)
3. Putty (In Your Hands) – (K. Rogers, J. Patton)
4. I Ain’t Got You – (C. Carter)
5. Got To Hurry – (O. Rasputin)
6. I Ain’t Done Wrong – (K. Relf)
7. I Wish You Would – (B. B. Arnold)
8. A Certain Girl – (N. Neville)
9. Sweet Music – (M. Lance, O. Cobbs, W. Bowie)
10. Good Mourning Little Schoogirl – (H.G. Demarais)
11. My Girl Sloopy – (B. Russel, W. Farell)
12. Good Mourning Little Schoolgirl (Live) – (D. Demarais)
13. I’m Talking About You – (C. Berry)
14. Got To Hurry (Alternate Version) – (O. Rasputin)

Vol 2

1. You’re A Better Man Than I – (M. Hugg, B. Hugg)
2. Evil Hearted You – (G. Gouldman)
3. I’m A Man – (E. McDaniel)
4. Still I’m Sad – (S. Smith-McCarty)
5. Heart Full Of Soul – (G. Gouldman)
6. The Train Kept A Rollin’ – (T. Bradshaw, L. Mann, H. Kay)
7. Smokestack Lightning (Live) – (C. Burnett)
8. Respectable (Live) – (O.K. Isley, R. Isley)
9. I’m A Man (Live) – (E. McDaniel)
10. Here ‘Tis (Live) – (E. McDaniel)
11. Boom Boom – (J. L. Hooker)
12. Honey In Your Lips – (K. Relf)
13. Smokestack Lightning (Live) – (C. Burnett)
14. I Wish You Would (Live) – (B. B. Arnold)



sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ben Folds - seu novo artista favorito

Não tem jeito. Por razões históricas, a guitarra acabou virando o carro chefe do rock, talvez por conta da origem do estilo, pela capacidade “vocal” de um solo e por toda a conotação de novidade, juventude e desafio que os anos 50 e 60 deram ao instrumento. Nesse sentido, também vale a pena levar em consideração que, nos países de língua inglesa (digo isso porque a “guitarra-elétrica” foi criada por conta do jazz, quando procurava-se uma maneira de amplificar o violão, que ficava escondido junto com tantos instrumentos de sopro, bateria... ) a divisão entre violão e guitarra é diferente na cabeça das pessoas, porque os dois são guitar. Na verdade, da maneira como a entendemos, ela nem existe. De qualquer maneira, por esse caminho você começa a enxergar a “imagem” da guitarra no imaginário cultural.

O começo de post foi essa baita digressão apenas para dizer que este não é um texto sobre guitarras ou discos com uma bela guitarra. Ela até está lá, em alguma faixa perdida, mas o grande destaque de Rockin' the Suburbs é mesmo o belíssimo piano do Ben Folds. No próximo parágrafo, mais sobre esse cara que, na minha opinião, é um dos melhores compositores pop da atualidade.

Durante os anos 90, antes de virar artista solo, Folds era o líder do Ben Folds Five, que na verdade era um trio. A banda acabou sem eles terem lançado sequer um disco ruim – se você pegar qualquer um dos quatro álbums da banda, é possível encontrar no mínimo quatro pérolas que vão ficar na sua cabeça. Outra coisa impressionante é o peso que a banda conseguia, contando apenas com bateria, baixo e piano. Existem canções de pegada quase punk, em que Folds consegue aliar peso, letras irônicas sensacionais e sim, uma boa dose de virtuosismo, já que suas linhas no piano são sensacionais, ao mesmo tempo que são assobiáveis e descomplicadas.

Puxa vida, mas quer dizer que eu estou falando bem da banda e o disco não é da banda? É isso mesmo. Isso é só para você ficar com vontade de ir atrás do resto. O primeiro disco solo dele é tão bom que até parece uma coletânea de sucessos. Você não vai ter vontade de pular uma música... Quem sabe apenas a faixa que dá título ao disco, que é um chicletinho exatamente de propósito, uma piada extremamente ácida que tira uma da classe média americana e do show business, no melhor estilo Simpsons:




eu tenho merda na cabeça

e é tanta que nem dá pra explicar

tão sozinho na minha tristeza de garoto branco

vá curtindo enquanto a banda reclama

(...)

detonando no subúrbio

assim como Michael Jackson fez

detonando no subúrbio

só que ele era talentoso

(...)

eu estou puto, mas sou educado demais

para reclamar quando alguém fura a fila do mcdonalds...


...é claro que em inglês isso tudo rima e soa melhor...

Essa música não tem piano, mas não tem problema, ele tocou todos os instrumentos do disco mesmo.

Momentos geniais: “Carrying Cathy”, triste, comovente, essa é uma balada sobre suicídio; “Losing Lisa”, para aqueles momentos em que você sabe que fez coisa errada, ou disse a coisa errada; “The Ascent of Stan”, que tem uma das atmosferas mais hipnóticas que eu já ouvi, Fred Jones Part 2, que fala sobre um jornalista da velha guarda que é demitido; “The Luckiest”, uma prova de que sensibilidade é a alma da música, essa faixa tem um piano que, por si só, já dá vontade de chorar, só que mais uma vez, Folds mandou bem na letra... E é claro, eu não poderia deixar de citar “Not the Same”, sobre um sujeito que, em uma festa, tomou um ácido, subiu numa árvore, encontrou Jesus e nunca mais foi o mesmo.

Bom, o resto (sobraram poucas) também é muito acima da maioria das coisas que surgem por aí e que a gente acaba automaticamente assimilando como pop. Isso é pano pra uma manga gigantesca, mas desse jeito o post vai ficar grande demais. Então, pare de fazer o que você está fazendo e baixe esse disco, seu velho cão safado.

Ficha Técnica

Ben Folds – Rockin' the Suburbs

2001


Músicas para Download



"Annie Waits" – 4:17

"Zak and Sara" – 3:11

"Still Fighting It" – 4:25

"Gone" – 3:22

"Fred Jones, Pt. 2" – 3:45

"The Ascent of Stan" – 4:14

"Losing Lisa" – 4:10

"Carrying Cathy" – 3:49

"Not the Same" – 4:17

"Rockin' the Suburbs" – 5:00

"Fired" – 3:49

"The Luckiest" – 4:44

quarta-feira, 9 de abril de 2008

De filme de terror não tem nada

Até 1982, poucos álbuns conseguiram chegar ao topo das paradas de rock e r&b ao mesmo tempo. Então veio Thriller, primeiro disco realmente capaz de terminar com qualquer segregação, agradando a qualquer ser que caminha por esta terra (sim, se você não gosta é um extraterrestre). Prova desse sucesso? Segundo a Sony BMG, o álbum já vendeu mais 150 milhões de cópias até hoje, número que o coloca entre os mais comercializados de todos os tempos.

Não é de se espantar que a equação que gerou o sexto álbum de Michael Jackson tenha dado tão bons resultados. Ao somar Quincy Jones – um produtor incrível – com a estrela pop mais talentosa já gerada pela gravadora Motown e um time de instrumentistas de dar inveja a qualquer artista, a conseqüência será uma quebra de recorde atrás de outra.

Vamos aos dados: Thriller conseguiu 80 semanas consecutivas entre os dez mais da parada norte-americana, além de ter passado 37 destas em primeiro lugar. Afora isso, sete das nove faixas originais do álbum chegaram entre os dez melhores singles da Billboard. Acha pouco? Aqui vai mais um mérito: o videoclipe criado para a música que dá nome ao disco revolucionou a MTV, pois foi o primeiro em forma de curta-metragem, resolvendo um roteiro em 14 minutos.

A maior façanha de Michael Jackson, no entanto, não foi a enxurrada de prêmios e recordes que angariou, mas a maneira como ele e sua equipe misturaram o pop, o rock e o soul com bom gosto jamais visto até então. Criaram, assim, um álbum forte e dançante.

Difícil é decidir qual é a melhor: “Beat It”, com a guitarra de Eddie Van Halen, ou “Billie Jean”. Até a canção com o clima anos 80 mais forte, “The Girl is Mine”, na qual Paul McCartney e Michael discutem sobre uma garota, é muito boa.

Agora uma curiosidade: dizem que Quincy Jones, ao chamar o baterista N'dugu Chancler, avisou: “venha, mas não traga nenhum prato”. Lenda ou verdade, fato é que não existem sons de prato no disco inteiro, com exceção, é claro, do chimbal. Mesmo nas músicas mais pesadas, Chancler não tira a mão da condução. Por quê? Para os funkeiros (por favor, não ache que estou falando do crápula DJ Marlboro) uma pratada consegue quebrar qualquer groove.

Como estragar uma obra prima

Chega de falar bem! Thriller é muito bom, mas a extensão feita para comemorar os 25 anos – celebrados em dezembro do ano passado – é uma bosta! Não dá para entender como um energúmeno tem a idéia de chamar artistas da moda para regravar músicas históricas e um outro patife acha isso uma boa idéia. Deve ter sido algo como: “Já sei, sabe aquela música que o Paul McCartney gravou, vamos chamar o will.I.Am para cantar em cima”. Com todo respeito: Vai tomar no r@%o!

Não só o egocêntrico will.I.Am, mas também Akon, Fergie e Kayne West foram capazes de destruir os temas originais. Todos eles conseguiram enlatar, artificializar e deixar sem graça o que antes era bom.

Ficha técnica



Thriller 25 anos - Michael Jackson e convidados
Lançamento Original: dezembro, 2007
Gravadora: Sony

Musicas para download

1. Wanna Be Startin Somethin
2. Baby Be Mine
3. The Girl Is Mine (com Paul McCartney)
4. Thriller
5. Beat It
6. Billie Jean
7. Human Nature
8. P.Y.T. (Pretty Young Thing)
9. The Lady In My Life
10. Vincent Price (bonus track)
11. The Girl Is Mine 2008 com will.i.am
12. P.Y.T. (Pretty Young Thing) 2008 com will.i.am
13. Wanna Be Startin Somethin 2008 com Akon e will.i.am
14. Beat It 2008 com Fergie
15. Billie Jean 2008 com Kanye West
16. For All Time (faixa não lançada em 1982)

Tudo bem, o original é histórico, mas esse vídeo é bem mais engraçado!


terça-feira, 8 de abril de 2008

Glam gang - o Rick você não conhecia.


Artistas de uma mesma geração e de um certo local sempre formam uma turminha. Tem a turminha dos Beatles, a turminha do Andy Warhol, do Bob Dylan, a turminha do punk, CBGB e o escambal, do hardcore, do emo... Enfim, artistas com a cabeça em coisas parecidas e que acabam, querendo ou não, criando uma estética similar. Eu não estou dizendo que você tem que gostar ou concordar. Você pode até achar, por exemplo, que essa molecada emo não é artista porcaria nenhuma. Talvez eu concorde, mas isso é com você. Não é nem disso que eu vou falar. (na foto 1, um momento absolutamente glam, Bowie como uma paquita venusiana, ou uma aranha de Marte)

Olha só,

Jamais poderia dizer que sou um profundo conhecedor de glam rock – já que eu não conheço praticamente nada do Roxy Music, por exemplo. Entretanto, um dos melhores discos do David Bowie se encaixa bem no perfil da coisa glam, isso se ele mesmo não foi (e é) um dos inventores do estilo. Por falar nisso, você já viu a capa de They Only Come Out at Night do Edgar Winter?


Impossível não lembrar de Hunky Dory... Pois é, e é de alguem dessa “Turminha do Edgar” que vou falar um pouquinho nesse post, e como o disco não é lá muito conhecido – o que é uma pena – provavelmente vou apresentá-lo ao leitor que tiver a paciência e o interesse.






Observação: se você acha que eu estou mal-humorado, é impressão sua.

Observação 2: é sério.


Bom, existe algo mais por trás dessa estética glam. Existe mais do que o visual, até porque, por Deus! Estamos falando de música. Sonoridade é como aquele tempero típico, que você mata ouvindo um solo de guitarra brega ou com timbre fantástico, uma bateria com reverb, teclados, o jeito de gravar a voz. Esse álbum de Rick Derringer, guitarrista que acompanhou os albinos irmãos Winter em vários momentos, é uma pequena jóia raramente lembrada, um disco que jamais estourou. Por isso mesmo, talvez você estranhe a capa de gosto duvidoso, mas não deixe esse pé atrás atrapalhar a audição do disco. São faixas com vigor e energia, sem deixar de lado o trabalho com as melodias, totalmente radiofônicas. Dá até pra dizer que, o bom-gosto que faltou na capa, sobrou no disco em si.

Dicas rápidas: “Rock'n'Roll Hoochie Koo”, “Teenage Love Affair”, “Cheap Tequila” e “Jump Jump Jump” para o agito; “Hold”, “The Airport Giveth” e “It's Raining” (óbvio!) para um dia chuvoso. Para o momento "dançando agarradinho", "Teenage Queen" Ah, “Slide Over Slinky” parece uma faixa que os Rolling Stones não gravaram.

Boas canções, bons timbres, bateria absolutamente deliciosa de se ouvir. É o melhor disco do mundo? Provavelmente não. Uns dos melhores de sua década? Sem dúvida um dos mais injustiçados. Agora só falta você dar uma chance ao Rick e sua velha Strato com headstock vermelho, seu velho cão safado.


Ficha Técnica


Rick Derringer – All American Boy

1973/74, lançado pela Blue Sky Records


Músicas para download

  1. Rock and Roll Hoochie Koo

  2. Joy Ride

  3. Teenage Queen

  4. Cheap Tequila

  5. Uncomplicated

  6. Hold

  7. The Airport Giveth

  8. Teenage Love Affair

  9. It's Raining

  10. Time Warp

  11. Slide On Over Slinky

  12. Jump, Jump, Jump