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segunda-feira, 31 de março de 2008

Stevie Ray Vaughan e a virtuose a serviço do bem


É fato. Eu nunca vi um guitarrista tocar tão bem tecnicamente quanto Stevie Ray Vaughan. Olha que eu sou o tipo do cara que não liga tanto pra técnica, que acha o solo de Cortez The Killer, de Neil Young, um dos mais belos da história e tal. Mas o Stevie Ray é impressionante, o virtuosismo dele transborda tanto que dá até raiva, e o pior, não faltava feeling ao texano. Alguns malas de plantão poderão dizer que Satriani é melhor, que o Steve Vai tem mais técnica, mas eu digo não. Nenhum Satriani ou Stevie Vai consegue tocar uma Fender Stratocaster com corda 0.13 (para quem não conhece, esse número indica a espessura da corda de uma guitarra, e 0.13 é muito muito muito grosso) e timbre limpo como Stevie Ray Vaughan fazia.

Influenciado por nomes como Jimi Hendrix, Albert King e Buddy Guy (belas referências em se tratando do mundo da guitarra, diga-se de passagem), a carreira de Stevie Ray Vaughan foi meteórica. No início dos anos 80, ele tocava em pequenos bares de Austin com sua banda que sempre o acompanhou, a Double Trouble, um power trio formado pelo próprio Stevie, Chris Layton na bateria e Tommy Shannon no baixo. A banda começou a fazer relativo sucesso, principalmente pelo fascínio que gerava o virtuosismo de Stevie, até que ninguém mais ninguém menos que David Bowie descobriu o rapaz e convidou-o para gravar todas as guitarras de seu álbum Let’s Dance. A partir daí, Stevie ficou conhecido internacionalmente e o Double Trouble gravou uma série de discos que elevou o prestígio de Stevie Ray ao patamar de Guitar Hero. Ou seja, os pivetes guitarristas elegeram o guitarrista texano como referênciae ele se juntou a um panteão de respeito, com nomes como Hendrix, Clapton, Blackmore e Jimmy Page. Ah, pelo jeito, ele foi influência para sambistas também!

Se hoje em dia ele é um guitarrista menos admirado e conhecido dos que os citados aí em cima, muito deve-se a sua morte prematura. A carreira de Stevie Ray foi interrompida tragicamente por um acidente de helicóptero em 1990. Muitos consideram esse acidente uma das maiores perdas do rock Eu estou entre esses muitos. Principalmente pelo potencial do guitarrista, que, tendo por base sua técnica, feeling e pegada, era quase infinito.

É difícil descrever o quanto Stevie Ray Vaughan tem intimidade com a guitarra, o jeito é ouvir. Por isso coloco aqui a versão que ele fez para “Little Wing”, de Jimi Hendrix, que é, na minha opinião, o melhor take único de um guitarrista em toda a história do rock’n’roll (a música foi gravada ao vivo, de primeira, e em um take). A Fender usou essa música para fazer um emocionante (e enorme) vídeo promocional homenageando a guitarra e o próprio Stevie Ray. O legal é que o vídeo é da Fender, mas mostra alguns guitarristas tocando com Gibson:



Ponho aqui para downoad o disco póstumo The Sky Is Crying, que tem essa bela Little Wing entre outras pérolas guitarristicas, com muito blues e "roquenrou" de primeira.


Ficha Técnica





Músicas para download

1. Boot Hill
2. The Sky Is Crying
3. Empty Arms
4. Little Wing
5. Wham
6. May I Have A Talk With You
7. Close To You
8. Chitlins Con Carne
9. So Excited
10. Life By The Drop






sexta-feira, 28 de março de 2008

Bons tempos!


É difícil classificar o Green Day, pois duas décadas separa a banda do punk original e – apesar de notáveis influências – o power trio californiano nunca poderia ser inserido no gênero, pois esse movimento, de certa forma, nasceu e morreu com grupos como The Clash e Sex Pistols. A verdade é que todos esses artistas dos 70 abriram caminho para uma enxurrada de novas interpretações do que faziam. Infelizmente, esse caminho nos levou ao emo core, mas, em compensação, fez nascer também o Green Day, o que poderíamos chamar de pop punk (se é que isso existe), já que não é segredo para ninguém que os caras sempre fizeram música para vender muitos CDs.

No entanto, a popularidade nunca comprometeu a qualidade. Os últimos álbuns têm algumas músicas bem ruins, mas nada pode manchar a carreira dos compositores de “She”, “Welcome to paradise” e “Basket case”. Todas essas, hinos pertencentes ao terceiro disco, Dookie (1994).

Esse é o álbum que faz você querer tocar aquela guitarra invisível e concordar com o som toda hora. É bom porque é simples e divertido ao mesmo tempo que é inventivo em pequenos detalhes, apesar de ser repetitivo como um disco dos Ramones. Também é rápido, desencanado e pesado (sem ter sequer uma baladinha meleca) como as melhores guitarradas de Iggy Pop.

Enfim, esse disco é vivo e faz você querer ser adolescente porra louca mais uma vez. “When I Come Around” é, para mim, uma música inesquecível e a melhor desse álbum fantástico. Eu não precisava entender de nada para saber que os caras mandavam muito bem. Dookie é pertencente a melhor fase do Green Day; tempos em que Billie Joe pintava o cabelo de uma cor diferente a cada show.

Ficha Técnica


Dookie - Green Day
Lançamento Original: fevereiro, 1994
Gravadora: Reprise


1. Burnout
2. Having a Blast
3. Chump
4. Longview
5. Welcome to Paradise
6. Pulling Teeth
7. Basket Case
8. She
9. Sassafras Roots
10. When I Come Around
11. Emenius Sleepus
12. Coming Clean
13. In The End
14. F.O.D. (Fuck Off And Die) / All By Myself (Hidden Track)

Woodstock, 1994. O que dizer? Sei que queria muito estar lá! Principalmente com toda a lama!! Esse vídeo é animal, mas me deixou com algumas dúvidas: 1- Como é possível conseguir um carrinho de supermercado no meio de um show? 2- O cara que some depois de cair completamente contorcido das mãos da galera sobreviveu? 3- Como pode uma guitarra não desafinar depois de ser atingida por uma bola de terra?


quarta-feira, 26 de março de 2008

Grateful Dead: perfeição também dentro dos estúdios



Sempre considerada uma banda fantástica ao vivo, The Grateful Dead talvez tenha se superado dentro dos estúdios em dois ou três discos, no máximo. Depois de frustrar seus fãs duas vezes, a primeira ao estrear em gravadoras no ano de 1967 e, na seqüência, com um álbum maluco que tentava registrar o verdadeiro hino ao deus Sol, o grupo natural de San Francisco liderado por Jerry Garcia registrou seu melhor momento dentro de quatro paredes com o belíssimo Workingman’s Dead, lançado em 1970.

Nesta terceira tentativa, o Grateful Dead simplificou sua música e retornou ao estilo raiz de cada membro da banda: um blues recheado de folk e country. Depois de se mudar para uma casa comunitária na baía de San Francisco, a banda passou por momentos bastante difíceis, inclusive por uma parada nas delegacias carregada de LSD. Nesse espírito, decidiram retornar ao estúdio, local desgostoso para a maioria dos integrantes - que na época somavam seis -, para saldar dívidas, gravar músicas simples e curtir o momento. Não podia ser diferente: o esforço foi recompensado com músicas deliciosas, salpicadas pelas irônicas letras de Jerry Garcia e seu amigo poeta Robert Hunter, além de composições vocais únicas na história do Grateful Dead.

Em seu livro de memórias, o próprio Jerry Garcia revela as influências que teve para gravar o Workingman’s Dead: a construção vocal do grupo recentemente formado por Crosby, Stills e Nash, além de suas próprias experiências tocando banjo em bares de beira de estrada do interior dos Estados Unidos em meados dos anos 60. O resultado, não poderia ser melhor. Em uma mistura com blues, country e puro boogie, o disco talvez seja o meu favorito, já que contém três músicas essenciais em qualquer concerto da banda: a deliciosa “Uncle John’s Band”, a estridente “New Speedway Boogie”, e “Casey Jones”, que registra a viagem de cair na estrada e cair na vida (esta, aliás, sempre me impressiona pelo comecinho... algo do tipo: prepare-se).

Além desses três grandes clássicos, “Dire Wolf” e “Easy Wind” merecem grande atenção.

É importante lembrar que o Grateful Dead sempre foi uma banda que atraiu multidões em seus shows nos Estados Unidos, mesmo depois da época dos grandes festivais gratuitos, como o Monterey Pop Festival – no qual a turma liderada por Jerry Garcia finalmente mostrou seu verdadeiro lado ao embalar em um jam interminável. Somente para registrar, os outros cinco membros que acompanham o guitarrista barbudão são: Bob Wier (guitarra e vocal), Ron “Pigpen” Mckernan (teclados e vocal), Phil Lesh (baixo e vocal), Bill Kreutzmann (bateria e percussão), Mickey Hart (bateria e percussão).


Ficha Técnica




Workingman’s Dead – The Grateful Dead
Lançamento original: junho, 1970
Gravadora: Warner Bros.
Duração: 35:33

Músicas para download

1. Uncle John’s Band
2. High Time
3. Dire Wolf
4. New Speedway Boogie
5. Cumberland Blues
6. Black Peter
7. Easy Wind
8. Casey Jones


Também coloquei aqui o video de "New Speedway Boogie", gravada ao vivo durante uma turnê do Grateful Dead pelo Canadá ao lado de outros grandes artistas, como Buddy Guy e Janis Joplin. O curioso é esta foi uma turnê itinerante, na qual os membros das bandas conviveram durante uma semana dentro de um trem. Para quem se interessar: "The Festival Express", disponível em dvd.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A solidão de Stephen Stills

Com alguns artistas, parece acontecer o seguinte: eles são bons, muito bons. Contudo, acabam pisando na bola e construindo uma carreira irregular, ainda que longa. Não estou dizendo aqui que a maioria dos músicos (agora eu vou usar uma palavra que odeio, mas é o ideal) “consagrados” (arghhhh...) só têm discos bons no currículo. Acontece que muitas vezes temos a sensação de que tal cara está devendo aquele disco, um álbum de redenção.
Faz tempo que Stephen Stills fez parte do Buffalo Springfield ou gravou o clássico e irretocável Crosby, Stills & Nash de 1969. Muito tempo mesmo, contudo, sempre tomou para si o lado mais blues e áspero da turma. Não é à toa que dos três (ou quatro, se você quiser contar seu amigo Neil Young) ele é o que mais, digamos assim, envelheceu mal. Um punhado de álcool (minha aposta é bourbon, Jack Daniels caubói) e uma depressão causada pela morte da esposa ajudaram o velho Stills a ficar um pouco abaixo do desempenho do bigodudo David Crosby por exemplo, que até hoje tem uma voz cristalina, pontente e jovem. Sim, é verdade. Olha aí, com o Nash em 2005, tocando a linda “Page 43”.

Agora você vai me dizer “ah, mas o Crosby é um puta doidão também”. Aham, mas os fatos são fatos e as diferenças são visíveis. Ou genéticas.
Stills nunca foi um vocalista sensacional, mas eu pessoalmente adoro sua voz rouca, e obviamente sua pegada blues absurda. Em 1991 já era possível notar que ele já não era o moleque que cantava “For What is Worth”, mas ele finalmente entregou aos fãs um disco que estava devendo há muito. Stills Alone é basicamente mesmo o que o nome do álbum sugere. Quase sem overdubs (que significa adiocionar a uma faixa já gravada vozes ou instrumentos a mais), é como se Stephen estivesse do seu lado, tocando violão e lembrando de algumas ou outras canções. É íntimo e quase comovente.
É o melhor disco do mundo? Claro que não, mas merece ser ouvido com toda sensibilidade que a sua alma suja conseguir, seu velho cão safado.


Ficha Técnica
Stephen Stills – Stills Alone
Duração - 30:36
Vision Records, 1991



Músicas para download

1. "Isn't It So" (Stills) – 3:14
2. "Everybody's Talkin'" (Neil) – 3:20
3. "Just Isn't Like You" (Stills) – 2:01
4. "In My Life" (Lennon/McCartney) – 2:10
5. "The Ballad of Hollis Brown" (Dylan)– 3:30
6. "Singin' Call" (Stills) – 2:20
7. "The Right Girl" (Stills/Pague) – 2:54
8. "Blind Fiddler Medley" (traditional/Stills/Hopkins) – 4:37
9. "Amazonia" (Stills) – 2:28
10. "Treetop Flyer" (Stills) – 4:02

domingo, 23 de março de 2008

Senhoras e senhores: Andrew Bird


Há um tempo atrás houve meio que um boom de cantores/compositores de violão e músicas bontinhas. Um dos fatores, provavelmente, foi a explosão do Coldplay como banda do momento (coisa que deixou Chris Martin um pouco chato). Pouco tempo depois, a banda se escondeu de novo e estamos ainda esperando um disco produzido pelo Brian Eno. Mas o espaço estava aberto.
Foi dessa maneira que o irlandês Damien Rice, por exemplo, emplacou um belo primeiro disco, impulsionado pelo ótimo filme Closer (vai me dizer que você não pensou “oh, que música é essa?” no comecinho do filme?) e escorregou um pouco no segundo. Eu estou só fazendo um pano de fundo, aquela coisa “background”.
Essa explosão de um estilo dentro do gênero sempre acaba fazendo com que nossos atentos ouvidos acabem por descobrir algum artista menos conhecido, daqueles que, conversando com alguém, você acaba garimpando. Andrew Bird é um desses casos. Ele ainda não teve um grande hit, é um cara esquisitão que mora numa fazenda e é um talentosíssimo compositor e multiinstrumentista. Eu não vou gastar tempo passando dados de enciclopédia-de-internet. Só vale a pena comentar que ele é erudito em violino, mas usa esse conhecimento em prol do bem. Sacou? Ele poderia ter montado uma banda de emo-metal ou de metal progressivo nórdico. Vou me concentrar mais em explicar um pouquinho para que serve esse disco dele.
Hm, The Misterious Production Of Eggs, que além do ótimo nome, também tem uma ótima capa, é um disco de rock? É sim, olha lá, tem até guitarrinha distorcida. Contudo, Bird tem um estilo tão próprio e ao mesmo tempo plural, que fica difícil estabelecer um padrão.

São belas canções com uma atmosfera esquisita. Baladas e peso. Contrastando, violinos malucos (ele usa pedais ligados ao violino, como por exemplo o oitavador, que adiciona uma oitava a mais – ou seja, a mesma nota, só que mais aguda ou mais grave). E mais do que isso, é um artista que, como poucos, consegue criar com um plus: elegância – comece o disco ouvindo a faixa “Tables and Chairs”, depois vá na seqüência natural.
Enfim, digo-vos: um disco que vale muitíssimo a pena conhecer. E acho que já é o suficiente.



Andrew Bird and the Misterious Production of Eggs
Gravadora: Fargo (2005) e Righteous Babe (2005)
Duração: 53:24

Músicas para download


1. "~" – 1:05
2. "Sovay" – 4:41
3. "A Nervous Tic Motion of the Head to the Left" – 4:59
4. "Fake Palindromes" – 2:52
5. "Measuring Cups" – 2:51
6. "Banking on a Myth" – 4:28
7. "Masterfade" – 4:10
8. "Opposite Day" – 4:31
9. "Skin Is, My" – 3:36
10. "The Naming of Things" – 4:57
11. "MX Missiles" – 4:21
12. "~~" – 1:08
13. "Tables and Chairs" – 4:44
14. "The Happy Birthday Song" – 5:03

quinta-feira, 20 de março de 2008

O pulsante som do Grand Funk Railroad

Era uma noite quase morta. Sabe quando tudo bate demais e o farol baixa? Nessas condições, tentando levantar o espírito dos colegas sonolentos, coloquei esse disco para tocar. Logo no primeiro acorde pulsante da guitarra infalível de Mark Farner, espanto: e aí Daniel, que isso? Agora, tenho a felicidade de compartilhar um dos melhores achados que tive recentemente. On Time, primeiro trabalho da bem sucedida banda americana Grand Funk Railroad, gravado ao vivo em apenas uma semana e lançado em meados de 1969.

Apesar do grande sucesso alcançado pela verdadeira “American Band”, este disco é um pouco renegado pelos críticos musicais. O lançamento do power trio norte-americano, que além do guitarrista Mark Farner contava também com as sólidas linhas de baixo de Mel Schacher e com as rítmicas batidas de Don Brewer, possui uma sonoridade de garagem que, para mim, define o rock ‘n’ roll do início dos anos 70. Além disso, apresenta a imaturidade sadia de uma banda que começava a cair na estrada.

No entanto, deixando de lado as letras bobas e ingênuas de algumas músicas, o disco apresenta duas grandes composições que se tornaram essenciais em todos os concertos da banda: a blues-rock “Time Machine”, com seu riff inconfundível, e o lamento amoroso de “Heartbreaker”.

Fora esses dois grandes sucessos, uma outra música particularmente me intrigou bastante. “T.N.U.C” foi bastante massacrada pela crítica especializada da época, que na verdade nunca simpatizou com o espírito livre do Grand Funk, mas é uma das minhas favoritas. A composição é despretensiosa, mas revela a qualidade dos artistas envolvidos: em certa altura, quebra em um jam empolgante, com um solo de bateria incrível do grandalhão Don Brewer. Puxa, tenho até vontade de falar sobre cada música...

Um belo disco.

Ficha Técnica



On Time – Grand Funk Railroad
Lançamento original: Capitol
Duração: 50:50

Músicas para download

1. Are You Ready
2. Anybody’s Answer
3. Time Machine
4. High On A Horse
5. T.N.U.C
6. Into The Sun
7. Heartbreaker
8. Call Yourself A Man
9. Can’t Be Too Long
10. Ups And Downs

Abaixo, versão ao vivo da música "T.N.U.C", gravada na época que o Grand Funk já contava com o apoio do tecladista Craig Fost.

segunda-feira, 17 de março de 2008

ZUMA ou a sinceridade do rock'n'roll

Finalmente um post sobre o cara que inspirou o nome do blog...



Não é a primeira vez que escrevo sobre esse disco. Já passei longos minutos, horas, e até mesmo dias pensando em como começar um texto como esse. Acontece que, no final desses pensamentos todos (porque é um disco que eu gosto demais, e precisava ser algo especial), percebi que não adianta muito você ficar divagando. Os outros precisam ouvir. Dessa maneira, o que você escreve é na verdade uma missão, com o objetivo de fazer o leitor ouvir o disco também. Vou me esforçar, pois, no momento, tenho aquele tempo de ser breve.


Esse é um dos trabalhos mais crus de Young. À produção, parece ter cabido apenas o trabalho de registrar o que ele e o Crazy Horse já vinham fazendo nos ensaios. Ao mesmo tempo, isso dá ao disco um intensidade e honestidade absurdas. É como uma carta cantada. Todas as canções são excelentes e sua guitarra está afiadíssima – basta saber que é neste disco que está a versão de estúdio de “Cortez, the Killer”, o riff matador de “Drive Back” e a trêpada “Barstool Blues”.


Em se falando de Neil Young, esse é um dos top5.
Pronto.


Ficha Técnica



Zuma - Neil Young & Crazy Horse


Lançado em novembro de 1975
Gravadora – Reprise
Duração – 36:31


Músicas para dowload

1. "Don't Cry No Tears" – 2:34
2. "Danger Bird" – 6:54
3. "Pardon My Heart" – 3:49
4. "Lookin' For A Love" – 3:17
5. "Barstool Blues" – 3:02
6. "Stupid Girl" – 3:13
7. "Drive Back" – 3:32
8. "Cortez the Killer" – 7:29
9. "Through My Sails" – 2:41

sexta-feira, 14 de março de 2008

A verdadeira mulher americana

Até entendo o sucesso da versão do Lenny Kravitz para “American Woman”. No final dos anos 90, o rock parecia destinado ao túmulo, com a propagação de falsos sons criados por computadores. Também, aquela linda modelo rebolando na frente da televisão... Mesmo assim, não consigo mais parar de ouvir o disco que contém a versão original dessa música, um raro sucesso na vida do grupo The Guess Who. Depois de gravar dois discos medianos, a banda formada por membros nascidos na parte francesa do Canadá (Winnipeg) lançou, em 1970, American Woman, que – apesar do tom de deboche dos vizinhos “bitolados” –, foi um sucesso instantâneo.

Em uma resenha publicada na Rolling Stones em 1972, Lester Banks, considerado um dos melhores críticos de rock (opinião não compartilhada por este simples mortal que vos escreve), afirmou que The Guess Who era Deus. Engraçado. Lá estava um canadense, e aqui vale lembrar que a rixa entre americanos e seus vizinhos do norte se assemelha ao que nós temos para com os argentinos, gritando como iria agarrar todas as mulheres americanas e, inacreditavelmente, conseguiu levar sua música ao topo da parada, tornando-se o primeiro daquele país a emplacar um hit nos EUA. Não só isso, com um riff poderoso, influenciado por The Who e The Doors, um baixo explodindo as caixas e um vocal implacável, The Guess Who criou um dos melhores discos da década de 70.

O nome da banda também é algo bastante curioso. Em uma tentativa de emplacar um sucesso apostando na burrice de seus compradores, o produtor da banda substituiu o nome original Chad Allan and The Reflections e colocou na estampa do single “Guess Who?”. A idéia era fazê-los passar por um supergrupo em disfarce. Não deu certo, mas o nome pegou. Rádios de Winnipeg tocavam o disco e alertavam os ouvintes para uma nova banda no mercado: The Guess Who.

Além do clássico “American Woman”, que não chega a ser a minha favorita do disco homônimo, “No Time” também alcançou o top 10 das paradas norte-americanas. A minha favorita é a dupla “No Sugar Tonight/New Mother Nature”, que no final junta as melodias da primeira e da segunda, criando uma sobreposição vocal muito interessante. Bastante influenciado pelos clássicos do blues dos anos 60, a instrumental “969 (The Oldest Man)” mostra a capacidade técnica do frontman Burt Cummings. Menção honrosa: “8:15” detona os ouvidos e claramente influenciou Lenny Kravitz em sua versão de “American Woman”.

Um belo disco. Aliás, um conselho: ouça alto.

Ficha Técnica






American Woman – The Guess Who
Lançamento original: janeiro, 1970
Duração: 41:50
Gravadora: Buddha


Músicas para download

1. American Woman
2. No Time
3. Talisman
4. No Sugar Tonight/New Mother Nature
5. 969 (The Oldest Man)
6. When Friends Fall Out
7. 8:15
8. Proper Stranger
9. Humpty’s Blues/American Woman (Epilogue)
10. Got To Find Another Way


Confira a música "No Sugar Tonight/New Mother Nature"

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sexta-feira, 7 de março de 2008

Novos gênios, capítulo 1



Todos os últimos textos deste blog provam que os grandes nomes do rock surgiram entre as décadas de 60 e 70. É verdade que provavelmente nunca veremos uma explosão cultural com a que ocorreu nessa época, mas isso não significa que o presente seja imprestável. A singela Regina Spektor é um exemplo disso. Tendo lançado seu primeiro CD em 2001, é impossível encontrar sequer uma música ruim em sua discografia.

Apesar do brilhantismo de todo trabalho dessa artista russa, a última gravação – Begin to hope, de 2006 – é a que realmente mostra o que a moça pode fazer. Isto é, tocar piano como uma instrumentista erudita, cantar docemente com inventividade e despojo e – principalmente – dar força e paz à música nas horas certas. De quebra, suas canções tem um groove digno de Cheap Trick (para quem não sabe, uma excelente banda de rock do final dos anos 70, cuja cozinha destrói).

Todo esse balanço das faixas de Begin to hope se deve a preocupação (provavelmente do produtor) de deixar os temas com o mínimo de instrumentação possível. Às vezes, como em trechos de “Hotel Song”, somente a bateria acompanha a voz. Já nas baladas – como “Fields Below” e “Samsom” – são os teclados que dominam.

É difícil dizer a razão pela qual as músicas lentas desse disco são lindas, pois simplesmente escutando-as será possível perceber a sensibilidade dessa artista incrível. Todavia, dois motivos são flagrantes para tornar essas faixas tão especiais: o piano e a voz. Como já citado, Regina toca o piano como se estivesse junto a uma orquestra. Além disso, ela canta como quem conta uma história, sem dizer que o faz em várias línguas. Interpreta cada palavra, mudando de humor, fazendo brincadeirinhas, ou até suspirando. Isso, sem cair nos bregas maneirismos à la Ídolos.

Muito bem, então esse CD tem groove e belas músicas lentas, mas e o rock? Bom, uma boa dose dele está concentrada em “Better”, tema do qual participa o guitarrista do Strokes, Nick Valensi. Na faixa, Valensi – em vez de destoar – faz um trabalho parcimonioso e dá o peso ideal ao arranjo. Outro convidado especial foi Shawn Pelton, atual batera do programa Saturday Night Live. Pelton também já acompanhou nomes como Elton John e Bruce Springsteen.

Ficha Técnica


Begin to hope – Regina Spektor
Lançamento original: 2006
Gravadora: Sire

Músicas para download:

1. Fidelity
2. Better
3. Samson
4. On The Radio
5. Field Below
6. Hotel Song
7. Apres Moi
8. 20 Years Of Snow
9. That Time
10. Edit
11. Lady
12. Summer In The City

Desculpem-me por meu lado baterístico, mas coloco aqui um vídeo de Shawn Pelton. Ao assiti-lo vocês perceberão que tipo de groove os espera em Begin to hope.



quinta-feira, 6 de março de 2008

Considerações acerca do show de Bob Dylan no Brasil

Ontem, dia 5 de março de 2008, eu assisti a um show do Bob Dylan. Vi um verdadeiro cânone do rock e do folk em ação, e, contrariando a opinião da maioria, achei-o em grande forma. Se vocês, antes de lerem o meu post, derem uma passada de olho na matéria do G1, por exemplo, podem chegar a pensar que eu não vi o mesmo show que o autor do texto. Eu não vi mesmo, e aí é que está toda a diferença.

O que boa parte da platéia presente no Via Funchal ontem não entendeu é que estava vendo um Bob Dylan ainda criativo, com uma produção de alto nível, não um compositor acomodado. De fato, seria mais fácil ao Dylan, já velhinho, viver dos seus grandes sucessos do passado, descansando as costas em qualquer mansão. Mas ele é, antes de tudo, um artista, e um artista sincero não pode se acomodar nunca. Por isso que ele continua gravando discos primorosos, como o seu último Modern Times (2006), e é também por esse motivo que ele dedicou mais de um terço do show de ontem a este mesmo disco. Eu, sinceramente, considero o fato de ele ter tocado clássicos como “Like a Rolling Stone”, “All Along The Watchtower” e “Stuck Inside Of Mobile With The Memphis Blues Again” uma espécie de favor concedido ao público, quase um gesto de simpatia. Algo como “eu sei que a maioria de vocês está aqui para ouvir essas músicas, então vamos a elas”. Bob Dylan está tão acima do bem e do mal que ele poderia tranqüilamente ter apenas tocado as músicas novas e não precisava ter trocado uma palavra sequer com o público. Mas, não, ele tocou clássicos e até disse, no final, “thank you, friends” (eu prefiro, de longe, um “thank you, friends” sincero a um poser abraçando a bandeira do Brasil). E há ainda quem reclame...


É patente um outro motivo para boa parte do público não ter achado a apresentação de Dylan absolutamente primorosa, como eu e minha caríssima amiga Luísa Pécora achamos. A voz rouca, grave e rasgada do Dylan de hoje é muito diferente da dos anos 60 e 70. Ele não consegue mais cantar notas longas (como o “meaaaaaaaaal”, de "Like a Roling Stone") e muda o tempo de quase todas as melodias, de uma maneira que fica quase impossível acompanhá-lo cantarolando. Em suma, ele não quer e nem pode mais cantar como antigamente. As únicas músicas fiéis ao registro do disco foram as do último álbum, obviamente. Isso só ratifica o fato de que o show de ontem foi da fase Modern Times do Dylan, não de qualquer outra.


No fim das contas, para aproveitar o show ao máximo era necessário chegar ao Via Funchal com quatro premissas na cabeça. Primeira: “esse show é dedicado, principalmente, ao último disco, que é muito bom”. Segunda: “a voz de Bob Dylan está absolutamente diferente, mas fica ótima nas músicas mais recentes”. Terceira: “Bob Dylan não é um showman poser e não fará das tripas coração para agradar a platéia” Quarta: “eu sou fanático por Bob Dylan, porra”. Se uma parte um pouco maior do público viesse com isso na cabeça, a catarse coletiva, certamente, seria maior. Mas isso seria querer demais. Bob Dylan sempre teve uma relação complicada com a platéia. Ele sempre esteve um passo a frente do público e, por isso, tem uma coleção de apresentações vaiadas no seu currículo.


Agora, passo a descrever o show que eu e Luísa Pécora vimos, ou seja, o show de quem, modéstia à parte, tinha essas premissas na cabeça.


O show começou com o rockão de Blonde On Blonde (1966) “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, com Dylan tocando guitarra (três músicas depois, ele passou ao teclado e por lá ficou até o fim do show) e ficou claro que tanto ele quanto a banda (ótima, diga-se de passagem) ainda estavam um pouco desconfortáveis. Depois, veio outro clássico, “It Ain’t Me, Babe”, do disco Another Side Of Bob Dylan (1964) e a banda e Dylan começavam a mostrar que vieram, numa performance coesa. O som da casa estava bem melhor do que a tragédia que costuma ser a acústica em São Paulo. O microfone de Dylan estava altíssimo (até para que sua voz rouca aparecesse), mas era possível ouvir todos os outros instrumentos com clareza.


Depois, vieram mais dois clássicos “I’ll Be Your Baby Tonight”, de John Wesley Harding (1967) e “Masters of Wars”, de The Freewheelin’ Bob Dylan (1963), quando Dylan assumiu o teclado. Os arranjos das duas foram absolutamente diferentes dos registros dos discos e mais adequados à banda grande e plugada. Foi na quinta música, no entanto, “The Leeves Gonna Break”, um rock de seu último disco, que a apresentação, até então correta, começou a ficar magistral. A fidelidade ao disco finalmente apareceu e Dylan se mostrou absolutamente confortável cantando uma música feita para a sua voz atual. Estávamos, naquele momento, vendo e ouvindo o que Bob Dylan tinha de fato nos reservado. A platéia, no movimento contrário, foi um pouco menos calorosa nos aplausos das músicas novas, mas isso não intimidou Dylan, que continuou tocando músicas feitas da década de 90 para cá. Dali até o fim da primeira parte do show (antes do bis) foram só mais três clássicos: “Stuck Inside Of Mobile With The Memphis Blues Again”, de Blonde on Blonde e “Highway 61 Revisited” e “Like a Rolling Stone”, de Highway 61 Revisited (1965). Dentre as músicas recentes destaco duas - ambas do último disco -, minhas favoritas de todo o show: a calma, plácida e melodiosa (sim, a voz rasgada de Dylan pode ser melodiosa) "Spirit On The Water" e a melhor de todas, "Workingman Blues #2".


“Like a Rolling Stone” fechou a primeira parte do show e causou o maior furor na platéia, durante sua execução houve até uma invasão ao palco absolutamente desnecessária. Foi sensacional ver todo mundo finalmente extasiado, mas já dava para perceber que Dylan só estava deixando a platéia um pouco mais feliz.


Para o bis ficou guardada a surpresa final. Depois de “Thunder On The Mountain”, um rockão que abre seu último disco, Dylan tocou no teclado os três acordes inconfundíveis da maravilhosa e rara na atual turnê “All Along The Watchtower”, de John Wesley Harding (1967). A versão para banda apresentada ontem até me lembrou um pouco a de Jimi Hendrix. A execução foi irretocável e emocionante.


Alguns reclamaram da ausência de "Blowin In The Wind", eu não me incomodei. Primeiramente porque Bob Dylan contradisse a Folha de S. Paulo, que, no mesmo dia, deu uma matéria com o título infame de “A Chance de Dylan tocar Blowin In The Wind é de 87%" ou qualquer coisa assim. Não sei se Dylan sabia da notícia, mas ele, propositadamente ou não, mostrou que é imprevisível e que é absolutamente livre para fazer o que quiser no palco. Depois, Bob Dylan é muito maior que "Blowin In The Wind" e ele tem tantos outros sucessos, até melhores, que a música não fez a menor falta.


Para quem não ouviu, abaixo está o link para o Download de Modern Times, o disco mais bem representado da noite.


Ficha Técnica




Modern Times – Bob Dylan
Lançamento original: agosto, 2006
Gravadora: Columbia


Músicas para download

1. Tunder On The Mountain
2. Spirit On The Water
3. Rollin’ And Tumblin’
4. When The Deal Goes Down
5. Someday Baby
6. Workingman’s Blues #2
7. Beyond The Horizon
8. Nettie Moore
9. The Levee’s Gonna Break
10. Ain’t Talkin’

PS: Daniel, Dylan se saiu muito bem ao teclado, ele tocou bem, de pé e se divertiu bastante. Na guitarra ele estava bem mais desconfortável.

PS2: Desculpem-me, meus caros amigos do Ferrugem.., pelo tom de confissão deste post, mas ele foi necessário.

Fatos e curiosidades acerca de um ex-Beatle ou pérolas obscuras no início de uma década duvidosa.


Fato 1: Paul McCartney é um dos músicos mais influentes do século XX, XXI e todos os outros vindouros.

Fato 2: Seu repertório enquanto um dos Beatles é praticamente irretocável .

Fato 3: Contudo, sua carreira solo é muitas vezes menosprezada por conta de um ou outro chiclete que ele tenha lançado, como “Mary Had a Little Lamb” (do seu primeiro disco com os Wings, Wild Life) ou a irritante “Freedom” na época do furor do 11 de setembro. Ela parecia bonitinha, tinha o Eric na guitarra, aquele tom de homenagem, mas depois encheu o saco pra caralho.

Fato 4: o que jamais impediu Paul de lançar pelo menos uma ou duas pérolas em cada disco, mesmo que o resto não seja tão bom. Exemplo? Fácil: “Little Lamb Dragonfly” e “My Love” de Red Rose Speedway, que não é lá um disco tão cheio de maravilhas assim, mas essas duas são de arrepiar.

Fato 5: Muitos artistas vindos das décadas de 60 e 70 simplesmente pisaram na bola nos estranhos anos 80, abusando de sintetizadores bregas, reverbs horríveis na caixa da bateria e mixagens esdrúxulas, que hoje em dia soam simplesmente... datadas. Entretanto, isso (quase) não ocorreu com Paul no excelente Tug of War de 1982. Além disso, esse disco conta com a participação de Stevie Wonder em duas faixas, “What’s that You’re Doing”, que é muito boa, e a exagerada “Ebony and Ivory”, que não precisava ter aquela introdução do Criança Esperança. A produção é do George Martin e o Ringo tocou bateria também. E opa! Já ia esquecendo, tem também o lendário Carl Perkins em “Get It”.

Entre tantos amigos e parceiros, há uma absurdamente belíssima faixa incrustada no meio do disco, como uma jóia a ser descoberta. “Here Today” precisa ser ouvida não só por ser bela por si só, mas também por conta da letra, já que é uma espécie de conversa entre Paul e John Lennon, assassinado dois anos antes.

Vale lembrar que na época do assassinato, muitos criticaram McCartney por ter reagido de “forma fria”. Isso não é só indevido como leviano, já que ninguém estava na pele dele – a não ser ele. Sua resposta, que não foi imediata porque ele simplesmente não queria compor algo porque precisava, sem esperar vir uma boa idéia, foi essa música.
Já desculpando todo mundo, vou me permitir fazer uma tradução livre de uns trechos da faixa, pra vocês sentirem o poder de fogo. Lá vou eu:

E se eu disser,
que te conhecia muito bem
qual seria sua resposta?
Aqui, hoje

Bem, te conhecendo
Você provavelmente diria
Que éramos mundos diferentes

(...)
E se eu disser,
que realmente te amava
e estou feliz que você está por aqui
se você estivesse aqui hoje
pois você está na minha canção
Aqui, hoje.



Classifico esse disco como “muito bom”. Há mais faixas que seguem o melhor estilo McCartney com melodias lindas e facilmente assobiáveis. Ele nunca foi um grande estudioso de harmonia e por isso são todas fáceis de tocar, mas cantar como ele, lá em cima, quase ninguém faz, e também não é qualquer um que senta com o violão e levanta com “The Pound is Sinking” ou “Wanderlust”.



Ficha técnica:



Tug of War – Paul McCartney
Lançamento original: 1982
Duração 40:59
Gravadora: EMI – Capitol

Músicas para download:

1. Tug Of War
2. Take It Away
3. Somebody Who Cares
4. What That's You're Doing
5. Here Today
6. Ballroom Dancing
7. The Pound Is Sinking
8. Wanderlust
9. Get It
10. Be What You See
11. Drees Me Up As A Robber
12. Ebony And Ivory

segunda-feira, 3 de março de 2008

John Mayall e o blues britânico

A Inglaterra sempre foi sujeita a influências norte-americanas quando o assunto é blues. Não que isso seja algo realmente ruim, já que na terra da rainha surgiu uma lenda viva desse estilo, que terá a oportunidade de mostrar sua carreira no Brasil mais uma vez. No dia 17 de maio, na Via Funchal, o bluesman John Mayall retorna a São Paulo para a turnê de lançamento de seu novo disco In the Palace of the King. A grande maioria das publicações que noticiaram a vinda do “avô do blues britânico”, no entanto, não especificaram quais membros do The Bluesbreakers, banda que acompanha Mayall nas gravações desde o começo dos anos 60, irão tocar na Paulicéia.


Quem dividirá o palco com John Mayall é o guitarrista Buddy Whittington, o baixista Hank Van Sickle e o baterista Joe Yuele. Nenhum deles participou das primeiras criações do Bluesbreakers do meio da década de 60.

Além do aviso, este post também pede licença para lembrar um dos maiores discos da história do blues. Depois de tocar em vários bares de Londres com diferentes formações e sem muito sucesso, John Mayall convidou o jovem Eric Clapton, que havia recentemente deixado a banda The Yardbirds e começava a sua frutífera carreira como guitarrista. Com sua insidiosa guitarra Gibson Les Paul, que até então não havia sido usada com amplificadores Marshall, Clapton soube captar a essência das músicas compostas por Mayall, além de modernizar canções de grandes nomes do blues, como Freddie King e Mose Allison.

The Bluesbreakers with Eric Clapton atingiu o sexto lugar na lista dos discos mais vendidos de 1966 e se tornou uma grande referência para artistas que procuravam um novo estilo de tocar guitarra, tanto que jovens inflamados pichavam paredes da capital inglesa com os dizeres “Clapton Is God”. Apesar do sucesso, Clapton deixou os Bluesbreakers em menos de um ano e formou o power trio Cream, com apoio de Jack Bruce (que também havia feito parte da banda de Mayall) e o baterista Ginger Baker.

Neste disco com Eric Clapton, John Mayall pôde focar suas atenções nas estruturas harmônicas, tornando-o bem acabado e bem gravado. Além das releituras de grandes clássicos do blues, como “All Your Love” (escrita por Willie Dixon e Otis Rush), o vovô de barbas loiras também conquistou o país com sua habilidade de tocar gaita, piano e Hammond, bastante marcante na música “Little Girl”. Clapton também registra a sua primeira gravação nos vocais, com a triste “Ramblin’ On My Mind”, música tradicional dos Estados Unidos.


Ficha técnica


Bluesbreakers with Eric Clapton – John Mayall
Lançamento original: julho, 1966
Duração: 37:22
Gravadora: Deram

Músicas para download

1. All Your Love
2. Hideaway
3. Little Girl
4. Another Man
5. Double Crossing Time
6. What’d I Say
7. Key To Love
8. Parchman Farm
9. Have You Heard
10. Rambli’n On My Mind
11. Steppin’ Out
12. It Ain’t Right

Ouça a instrumental Hideaway, composta por Freddie King, homenageado de John Mayall em seu último disco.