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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Ano perfeito

Uma geração inteira pode ser compreendida pelo conteúdo cultural que produz. Em 1967, ano perfeito da música norte-americana e britânica, o mundo teve contato com discos que definiram os conceitos de hippie, psicodelismo e contracultura. Em meio aos lançamentos de clássicos já exaustivamente discutidos, como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, Are You Experienced?, do Jimi Hendrix, a volta de Bob Dylan marcou as paradas da Billboard e causou entusiasmo na crítica especializada exatamente por não seguir o hype da época.

Recuperado de um grave acidente de motocicleta que o afastou dos holofotes da imprensa, Dylan voltou à velha forma: encostou a guitarra elétrica que marcou discos como Blonde on Blonde e começou a gravar sessões informais em um estúdio de Nashville, lar da música country dos Estados Unidos. Depois de aquecer os dedos acompanhados por integrantes do The Crackers, grupo que alcançaria sucesso com o nome The Band e com o qual Dylan lançaria The Basement Tapes em 1975, o compositor começou a produção do disco John Wesley Harding, esforço que contou com pouquíssima divulgação e nenhum single.

Acompanhado somente pelo baixista Charlie McCoy, o baterista Kenneth Buttrey e o guitarrista Pete Drake, famoso em Nashville pelo estilo único de tocar a steel guitar, Bob Dylan explorou temas como o folclore norte-americano - John Wesley Harding foi um bandido famoso no Velho Oeste –, parábolas bíblicas e, como não podia faltar, o descaso político com relação aos povos esquecidos da América.

Invariavelmente irritado com a publicidade que sua música alcançava, Bob Dylan limitou-se apenas a lançar seu disco agrário sem apelar para anúncios em dezembro de 1967. Apesar de John Wesley Harding não figurar entre os grandes destaques daquele ano, o compositor revelou, em entrevistas posteriores, que a produção do álbum foi extremamente importante para seu futuro como músico.

“Apenas duas músicas foram escritas junto com as melodias ("Down Along The Cove" e "I’ll Be Your Baby Tonight"). O resto eu compus primeiro no papel e depois encontrei a música para acompanhar. Nunca havia feito isso e não fiz novamente depois. Essa pode ser a razão pela qual considero esse disco especial”, relembra Bob Dylan, em entrevista coletiva publicada em 1978.

Também marcado pelo estilo desleixado que caracteriza a música de Bob Dylan, John Wesley Harding é introspectivo e questionador sobre o estilo de vida norte-americano. O entusiasmo com as raízes country levou o compositor a gravar outros dois discos na capital do estado de Tennessee: Nashville Skyline, que alcançou grande sucesso, e Self Portrait, considerado um dos piores álbuns de sua carreira por apenas cozinhar temas antigos e canções tradicionais dos Estados Unidos. No entanto, desse período, a história do bandido do Velho Oeste revelou-se uma das produções mais importantes de Dylan, com canções como "All Along The Watchtower" e "I Dreamed I Saw St. Augustine", cuja linha “I dreamed I saw St. Augustine alive as you or me” inspirou Joan Baez a escrever uma de suas principais músicas de protesto: "Joe Hill".

Um belo disco.


Ficha técnica:



John Wesley Harding – Bob Dylan
Lançamento original: dezembro, 1967
Duração: 38:58
Gravadora: Columbia Records

Músicas para download:

1. John Wesley Harding – 2:58
2. As I Went Out One Morning – 2:49
3. I Dreamed I Saw St. Augustine – 3:53
4. All Along The Watchtower – 2:31
5. The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest – 5:35
6. Drifter’s Escape – 2:52
7. Dear Landlord – 3:16
8. I Am a Lonesome Hobo – 3:19
9. I Pity the Poor Immigrant – 4:12
10. The Wicked Messenger – 2:02
11. Down Along the Cove – 2:23
12. I’ll Be Your Baby Tonight – 2:34

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7 comentários:

Marcelo Cobra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Cobra disse...

Aoo, belo texto, e longa vida ao Ferrugem Nunca Dorme. É um pena que os ingressos para ver o Bob Dylan sejam tão caros. Inclusive, até acho legal que o show seja sentado, mas num esquema mesa-com-garçom-andando-e-servindo-durante-o-show fode tudo.

Fel Mendes disse...

Começou! Belo texto e vamos que vamos. Long Life...

Anônimo disse...

mais uma análise inflamada de um vocalista sofrível, péssimo violonista e um gaitista tão habilidoso quanto uma criança de 2 anos.

Anônimo disse...

Belo tema para um primeiro post, hein? Confesso que quando peguei meu ingresso para o show do Dylan fiquei até emocionada. É caro pacas mesmo, mas vai valer muito a pena!
Ah, e parabéns pelo título do blog. Uma referência neilyounguiana sempre me cai bem :-)

Anônimo disse...

É, legal é se vestir de preto e ouvir o pessoal bater nas cordas da guitarra criando, se possível, uma microfonia impraticável.

Metal pra mim é ferro.

Anônimo disse...

escreveu errado: é tampa e não anta.