Verdade que eu sou um pouco exagerado, sempre falo que tal coisa é “a melhor que há”, sou um pouco vítima da minha empolgação. Mas, no caso do Sky Blue Sky, a coisa é séria. As canções são tão belas, tão bem gravadas, os solos de guitarras são tão bem construídos que dá até raiva. Parece que o Wilco ouviu todas as bandas com influências dos anos 70, percebeu todas as falhas e clichês e entregou o disco dizendo a todas: “ó, é assim que se faz”. Mas o que me deixou mais estarrecido é o fato de o disco não ser só um apanhado das principais influências da banda (claramente Neil Young e Bob Dylan), mas também mostrar uma personalidade forte, tanto nos arranjos quanto nas composições.
Quem ouve a talvez melhor música do disco, “Impossible Germany” (não tenho palavras para descrever a beleza dessa faixa), consegue perceber uma ternura que tanto Neil Young quanto Bob Dylan não têm. Obviamente não estou falando que o Wilco é melhor que esses dois cânones, só estou falando que ambos, normalmente, não se mostram tão delicados em suas músicas e letras quanto a banda americana. Repito, não estou dizendo que Dylan e Young não são sutis, ternos e delicado, pelo contrário. Mas o eu-lírico do Wilco, por se expor demais nas letras e nas músicas, acaba trazendo uma carga emotiva muito grande, mais passiva do que nas obras das duas principais referências da banda. Em suma, o Wilco, principalmente em Sky Blue Sky, mostra uma fragilidade sem pieguice (leia-se, uma fragilidade nem um pouco emo) muito patente.
Para exemplificar o que eu digo, cito uma parte da letra da música que dá o título ao disco, que consegue ser ao mesmo tempo acanhada e incisiva, frágil e cruel: “With a sky blue sky / This rotten time / Wouldn’t seem so bad to mee now / Oh, I didn’t die / I should be satisfied / I survived / That’s good enough for now”. Sem discutir se o trecho é autobiográfico ou não, fica claro quão explícitas as letras são, o eu-lírico se desnuda de uma forma absolutamente aberta. É um chute (o bom do Ferrugem é poder chutar à vontade), mas, ao meu ver, esse recurso estético corajoso tem muito a ver com os dias de hoje. As metáforas e os floreios já foram por demais explorados, por isso, é muito bem vinda uma letra que seja fácil de entender. É muito mais bem vinda uma metáfora que embeleze a imagem e não a turve. Nesse sentido, acho que o Wilco entendeu bastante a obra de John Lennon, no melhor estilo “I’m Lonely / Wanna die”.
Outro trecho, que discute o fazer artístico de forma muito bonita e (de novo) explícita aprece na música “What Light”: “If you feel like singing a song / And you want other people to sing along / Just sing what you feel / Don’t let anyone say it’s wrong”.
O instrumental do disco também carrega a mesma aparente fragilidade, com instrumentos limpos e bem tocados e sem muitas grandiloqüências. Mas, como acontece nas letras, cada nota emitida por cada instrumento é tão estudada, tocada com tanta perfeição e feeling (o tal feeling é um outro bom tema para um post no Ferrugem), que, em quase todas as músicas, eu consegui (falo em primeira pessoa porque isso já é muito pessoal) me emocionar. Os solos de guitarra são um capítulo à parte. O guitarrista solo, Nels Cline, mostra nesse disco que é um dos melhores guitarristas dos nossos tempos. Suas frases são dificílimas, com momentos de virtuose que lembram até o meu querido metal (parece até que o fim do solo de “Side With Seeds” foi feito para nenhum fã de Satriani encher o saco), mas nunca esquecendo os ensinamentos do papai Young: sentimento acima de tudo. O disco é ainda mais impressionante por ter sido gravado inteiramente ao vivo, o que mostra trata-se de uma banda afiadíssima e com certeza é excelente ao vivo.
Enfim, como sempre faço, me empolguei e acabei escrevendo demais. No fim das contas, o Wilco é talvez a banda que melhor carregou o legado de Bob Dylan, Neil Young e Beatles, por isso é tão foda.
Outro fato importante de ser lembrado é que o Wilco é uma banda com muitos anos de carreira e outros discos excepcionais, como o Yankee Hotel Foxtrot, que traz mais clara a influência dos Beatles na banda.
A faixa “Impossible Germany” pode ser ouvida na muxtape do João Victor, amigo do pessoal do Ferrugem e guitarrista do Bazar Pamplona.
Sky Blue Sky - Wilco
lançamento oringinal: 15 de maio de 2007
Músicas para download
1-"Either Way" – 3:05
2-"You Are My Face" (Tweedy, Cline) – 4:38
3-"Impossible Germany" (Tweedy, Wilco) – 5:57
4-"Sky Blue Sky" – 3:23
5-"Side with the Seeds" (Tweedy, Jorgensen) – 4:15
6-"Shake It Off" – 5:40
7-"Please Be Patient with Me" – 3:17
8-"Hate It Here" (Tweedy, Wilco) – 4:31
9-"Leave Me (Like You Found Me)" – 4:09
10-"Walken" (Tweedy, Wilco) – 4:26
11-"What Light" – 3:35
12-"On and On and On" (Tweedy, Wilco) – 4:00
4 comentários:
Deu saudade do "A ghost is born"...
na verdade, por um erro meu, só conheço bem este cd. os outros nunca ouvi direito, preciso correr atrás. mas impossible germany também é minha preferida.
Verdade, Guilherme, a Ghost Is Born é outro baita disco dos caras. Talvez o mais soturno, não? Eu só não gosto tanto de Spiders (Kidsmoke), que é muito longa e repetitiva. Quer dizer, não é que eu não gosto, porque a sensação que dá a chegada do refrão já no fim da música é um alívio muito louco, quase místico hehe. Mas não é sempre que eu fico com vontade de ouvir uns 12 minutos do mesmo som, normalmente eu pulo essa música.
A grande beleza desse post é o Juliano se assumindo exagerado! A humanidade respira aliviada.
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