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terça-feira, 8 de julho de 2008

O legado do Wilco

Ano passado o Wilco lançou o disco Sky Blue Sky, que figurou em quase todas as listas de melhores do ano. Na minha lista, particularmente, o disco divide o primeiro lugar com o Era Vulgaris do Queens Of The Stone Age (disco que merece tópico, aliás). Verdade que trata-se de um disco fácil de achar por aí para o download, mas ontem eu estava matando a saudade, depois de uns quatro meses sem ouví-lo, e me senti um pouco obrigado a postá-lo aqui, para que, assim, eu possa conversar sobre essa obra prima com todos que eu conheço.


Verdade que eu sou um pouco exagerado, sempre falo que tal coisa é “a melhor que há”, sou um pouco vítima da minha empolgação. Mas, no caso do Sky Blue Sky, a coisa é séria. As canções são tão belas, tão bem gravadas, os solos de guitarras são tão bem construídos que dá até raiva. Parece que o Wilco ouviu todas as bandas com influências dos anos 70, percebeu todas as falhas e clichês e entregou o disco dizendo a todas: “ó, é assim que se faz”. Mas o que me deixou mais estarrecido é o fato de o disco não ser só um apanhado das principais influências da banda (claramente Neil Young e Bob Dylan), mas também mostrar uma personalidade forte, tanto nos arranjos quanto nas composições.



Quem ouve a talvez melhor música do disco, “Impossible Germany” (não tenho palavras para descrever a beleza dessa faixa), consegue perceber uma ternura que tanto Neil Young quanto Bob Dylan não têm. Obviamente não estou falando que o Wilco é melhor que esses dois cânones, só estou falando que ambos, normalmente, não se mostram tão delicados em suas músicas e letras quanto a banda americana. Repito, não estou dizendo que Dylan e Young não são sutis, ternos e delicado, pelo contrário. Mas o eu-lírico do Wilco, por se expor demais nas letras e nas músicas, acaba trazendo uma carga emotiva muito grande, mais passiva do que nas obras das duas principais referências da banda. Em suma, o Wilco, principalmente em Sky Blue Sky, mostra uma fragilidade sem pieguice (leia-se, uma fragilidade nem um pouco emo) muito patente.

Para exemplificar o que eu digo, cito uma parte da letra da música que dá o título ao disco, que consegue ser ao mesmo tempo acanhada e incisiva, frágil e cruel: “With a sky blue sky / This rotten time / Wouldn’t seem so bad to mee now / Oh, I didn’t die / I should be satisfied / I survived / That’s good enough for now”. Sem discutir se o trecho é autobiográfico ou não, fica claro quão explícitas as letras são, o eu-lírico se desnuda de uma forma absolutamente aberta. É um chute (o bom do Ferrugem é poder chutar à vontade), mas, ao meu ver, esse recurso estético corajoso tem muito a ver com os dias de hoje. As metáforas e os floreios já foram por demais explorados, por isso, é muito bem vinda uma letra que seja fácil de entender. É muito mais bem vinda uma metáfora que embeleze a imagem e não a turve. Nesse sentido, acho que o Wilco entendeu bastante a obra de John Lennon, no melhor estilo “I’m Lonely / Wanna die”.


Outro trecho, que discute o fazer artístico de forma muito bonita e (de novo) explícita aprece na música “What Light”: “If you feel like singing a song / And you want other people to sing along / Just sing what you feel / Don’t let anyone say it’s wrong”.

O instrumental do disco também carrega a mesma aparente fragilidade, com instrumentos limpos e bem tocados e sem muitas grandiloqüências. Mas, como acontece nas letras, cada nota emitida por cada instrumento é tão estudada, tocada com tanta perfeição e feeling (o tal feeling é um outro bom tema para um post no Ferrugem), que, em quase todas as músicas, eu consegui (falo em primeira pessoa porque isso já é muito pessoal) me emocionar. Os solos de guitarra são um capítulo à parte. O guitarrista solo, Nels Cline, mostra nesse disco que é um dos melhores guitarristas dos nossos tempos. Suas frases são dificílimas, com momentos de virtuose que lembram até o meu querido metal (parece até que o fim do solo de “Side With Seeds” foi feito para nenhum fã de Satriani encher o saco), mas nunca esquecendo os ensinamentos do papai Young: sentimento acima de tudo. O disco é ainda mais impressionante por ter sido gravado inteiramente ao vivo, o que mostra trata-se de uma banda afiadíssima e com certeza é excelente ao vivo.

Enfim, como sempre faço, me empolguei e acabei escrevendo demais. No fim das contas, o Wilco é talvez a banda que melhor carregou o legado de Bob Dylan, Neil Young e Beatles, por isso é tão foda.

Outro fato importante de ser lembrado é que o Wilco é uma banda com muitos anos de carreira e outros discos excepcionais, como o Yankee Hotel Foxtrot, que traz mais clara a influência dos Beatles na banda.

A faixa “Impossible Germany” pode ser ouvida na muxtape do João Victor, amigo do pessoal do Ferrugem e guitarrista do Bazar Pamplona.




Sky Blue Sky - Wilco
lançamento oringinal: 15 de maio de 2007















Músicas para download


1-"Either Way" – 3:05
2-"You Are My Face" (Tweedy, Cline) – 4:38
3-"Impossible Germany" (Tweedy, Wilco) – 5:57
4-"Sky Blue Sky" – 3:23
5-"Side with the Seeds" (Tweedy, Jorgensen) – 4:15
6-"Shake It Off" – 5:40
7-"Please Be Patient with Me" – 3:17
8-"Hate It Here" (Tweedy, Wilco) – 4:31
9-"Leave Me (Like You Found Me)" – 4:09
10-"Walken" (Tweedy, Wilco) – 4:26
11-"What Light" – 3:35
12-"On and On and On" (Tweedy, Wilco) – 4:00

4 comentários:

Guilherme disse...

Deu saudade do "A ghost is born"...

Marcelo Cobra disse...

na verdade, por um erro meu, só conheço bem este cd. os outros nunca ouvi direito, preciso correr atrás. mas impossible germany também é minha preferida.

Juliano Coelho disse...

Verdade, Guilherme, a Ghost Is Born é outro baita disco dos caras. Talvez o mais soturno, não? Eu só não gosto tanto de Spiders (Kidsmoke), que é muito longa e repetitiva. Quer dizer, não é que eu não gosto, porque a sensação que dá a chegada do refrão já no fim da música é um alívio muito louco, quase místico hehe. Mas não é sempre que eu fico com vontade de ouvir uns 12 minutos do mesmo som, normalmente eu pulo essa música.

Anônimo disse...

A grande beleza desse post é o Juliano se assumindo exagerado! A humanidade respira aliviada.