quinta-feira, 31 de julho de 2008
A piada que ficou sem graça
Donkey, o tal disco do CSS, é, pelo que todos os críticos estão falando, polêmico porque é mais sério e traz mais guitarras (vejam só o sinal dos tempos, guitarra, hoje, é sinal de seriedade). Francamente, não consigo entender o que uma série de músicas enfadonhas, repetitivas e absolutamente insossas até para dançar – já que, aparentemente, este é um dos apelos da banda – podem ter de polêmicas. A verdade é que o CSS deve ter percebido que seria impossível fazer um álbum como o primeiro de sua carreira, que tem seu trunfo na novidade exótica, para a gringaiada dizer: “olha, tem uma japonesinha bochechuda dando pulinhos, e ela vem de um país tropical, do terceiro mundo, que, até onde eu sabia, só toca samba e bossa nova”.
O CSS não podia repetir a piada. De fato, não repetiu, mas contou uma muito sem graça. No fim das contas, o CSS esbarrou na própria inaptidão e, na tentativa de fazer um disco sério, fez um disco chato.
Donkey é um album repleto de lugares comuns do indie rock, como músicas começadas com riffs de baixo, tecladinhos, guitarras limpas tocando fraseados pegajosos e refrõezinhos com uma batida disco. Soma-se a essa falta de inovação o vocal de Lovefoxxx, que, de tão limitado, permite que ela cante, no máximo, umas três notas por música. Duas músicas destoam um pouco desse estilo, e por isso mesmo, são menos piores: "I Fly" e "Move". A primeira traz uma guitarrada honesta (mas que eu duvido que a moça do CSS consiga tocar) e a segunda é a melhor música do disco, porque traz um vocal um pouquinho mais melódico (mas fica claro, mesmo na gravação, que a Lovefoxx vai desafinar ao vivo ao cantar essa música) e porque me lembra muito uma música de que gosto do Men At Work (para um disco tão ruim, isso é um baita elogio).
Minha conclusão é: se você quer ouvir um bom indie rock dançante, vale muito mais a pena esperar o novo disco do Franz Ferdinand.
A única coisa boa de Donkey é a iniciativa da Trama, que distribui o disco aqui no Brasil, em disponibilizar o download gratuito no seu site oficial. Ou seja, quem quiser discordar de mim, pode entrar lá e baixar, mas eu, sinceramente, acho que o tempo de vocês pode ser gasto com piadas mais engraçadas.
Ficha Técnica
Donkey - CSS (Cansei de Ser Superestimado)
Lançamento oficial: 21 de julho de 2008
Músicas para download
1-"Jåger Yoga" — 3:49
2-"Rat Is Dead (Rage)" — 3:19
3-"Reggae All Night" — 3:54
4-"Give Up" — 3:21
5-"Left Behind" — 3:31
6-"Beautiful Song" — 3:28
7-"How I Became Paranoid" — 3:26
8-"Move" — 3:53
9-"I Fly" — 3:17
10-"Believe Achieve" — 3:36
11-"Air Painter" — 3:48
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Amanhã tem show do Muse
* Já que sou sempre lembrado nos comentários deste blog por minha aparência não tão óbvia com integrantes de diferentes bandas, decidi dar meu primeiro pitaco por aqui. Caso gostem, visitem o bigorna ou o e digo mais, são legais também!
E eu estarei lá. Gosto da banda mais ou menos desde 2003, quando eles lançaram o CD Absolution (até hoje meu preferido). Eles são um trio inglês de rock meio alternativo, meio eletrônico, indie ou qualquer outra definição do tipo. Já tinha assistido a uns vídeos dos caras tocando ao vivo, no YouTube. Achei bem legal. Mas depois que vi e ouvi o CD/DVD H.A.A.R.P. achei melhor ainda. É uma puuuta produção com direito a chuva de papel, luzes, um telão enorme ao fundo do palco e balões sobrevoando a platéia. Tem gente que acha tosco, que o show tem que ser a banda e não um monte de efeito que eles usam para impressionar. Eu gosto. E acho que chuva de papel sempre funciona. Quer emocionar? Joga uns pedaços de papel do alto do palco e divirta-se.
Aqui no Brasil, obviamente, não vai ser tão puuuta produção assim. O HSBC Brasil nem comporta um show desse naipe (que foi gravado no Estádio de Wembley com ingressos esgotados). Mas, além desses efeitinhos de espetáculo, tem o som dos caras. Ao vivo é bom e empolga bastante. As músicas ajudam, já que quase todas têm aquele clima de estádio, de gritos de guerra, com refrões bem marcados e fortes. O Matthew Bellamy (vocalista) usa e abusa de um recurso que é marcadamente uma característica dele, e que o pessoal às vezes torce o nariz. Ele suga o ar antes de cada verso das músicas e dá uma impressão de que está precisando descansar e respirar um pouco. Mas na verdade é um charme pras músicas ganharem aquele quê de "será que o mundo vai acabar? olha que desespero!". E ele tem esse cabelo de emo, mas não é emo não (apesar de ter aberto os shows do My Chemical Romance nos EUA).
Para quem conhece, imagine Hysteria ao vivo, Knights of Cydonia, Supermassive Black Hole, Bliss. Do caralho! Eu tô empolgado e espero que o show seja excelente. Mas prometo voltar por aqui para dar meu parecer sobre a performance. Talvez eu deixe de lado esse relato parcial e diga se foi mesmo tão bom quanto imaginava ou se decepcionou. Talvez não. Na verdade, acho que vou gostar de qualquer jeito. Mas meu amigo Daniel Marques estará lá comigo e poderá falar com mais sinceridade sobre o que foi apresentado. Se a gente discordar bastante, dá até pra montar um ringue e dar porrada. Veremos!
Enquanto isso, time is runing out...
Ficha Técnica
H.A.A.R.P - Muse
Lançamento original: março, 2008
Músicas para download (link no Lágrima Psicodélica)
1. Intro/Dance of the Knights [From Romeo and Juliet] (1:45) 2. Knights Of Cydonia (6:37) 3. Hysteria (4:19) 4. Supermassive Black Hole (4:00) 5. Map Of The Problematique (5:22) 6. Butterflies And Hurricanes (5:56) 7. Invincible (6:15) 8. Starlight (4:14) 9. Time Is Running Out (4:23) 10. New Born/Microphone Fiend (8:16) 11. Unintended (4:35) 12. Microcuts (3:47) 13. Stockholm Syndrome (7:37) 14. Take A Bow (4:44) |
Desenterrando raridades: Bob Dylan
Leia a matéria do Estadão na íntegra.
Aproveitando o momento, deixo aqui uma coletânea de gravações informais de Bob Dylan acompanhado de sua banda favorita, The Band, com o título simplório de The Basement Tapes. As músicas, entre elas standards do country, composições do próprio Dylan e algumas surpreendentes canções escritas pelos integrantes da banda de apoio canadense, foram gravadas entre 1967 e 1975, em um estúdio no porão da casa de Dylan em Woodstock, New York. Vale a pena!
Aliás, estou devendo um disco do The Band aqui viu. Puta banda boa.
Ficha Técnica
The Basement Tapes – Bob Dylan and The Band
Lançamento original: junho, 1975
Músicas para download – Vol. 1 e Vol. 2
1. "Odds and Ends" (Dylan) (take 2, additional overdubs) – 1:46
2. "Orange Juice Blues (Blues for Breakfast)" (Manuel) (additional overdubs) – 3:37
3. "Million Dollar Bash" (Dylan) (take 2) – 2:31
4. "Yazoo Street Scandal" (Robertson) – 3:27
5. "Goin' to Acapulco" (Dylan) – 5:26
6. "Katie's Been Gone" (Manuel, Robertson) – 2:43
7. "Lo and Behold!" (Dylan) (take 2) – 2:45
8. "Bessie Smith" (Danko, Robertson) – 4:17
9. "Clothesline Saga" (Dylan) (take 1, additional overdubs) – 2:56
10. "Apple Suckling Tree" (Dylan) (take 2) – 2:48
11. "Please, Mrs. Henry" (Dylan) (take 2) – 2:31
12. "Tears of Rage" (Dylan, Manuel) (take 3) – 4:11
1. "Too Much of Nothing" (Dylan) (take 1) – 3:01
2. "Yea! Heavy and a Bottle of Bread" (Dylan) (take 2) – 2:13
3. "Ain't No More Cane" (Traditional) – 3:56
4. "Crash on the Levee (Down in the Flood)" (Dylan) (take 2) – 2:03
5. "Ruben Remus" (Manuel, Robertson) – 3:13
6. "Tiny Montgomery" (Dylan) – 2:45
7. "You Ain't Goin' Nowhere" (Dylan) (take 2, additional overdubs) – 2:42
8. "Don't Ya Tell Henry" (Dylan) – 3:12
9. "Nothing Was Delivered" (Dylan) (take 2) – 4:22
10. "Open the Door, Homer" (Dylan) (take 1) – 2:49
11. "Long Distance Operator" (Dylan) – 3:38
12. "This Wheel's on Fire" (Danko, Dylan) (additional overdubs) – 3:49
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Direto do forno: The Black Keyes
O resultado lo-tech pode cansar um pouco e o disco em si perde sua força criativa no miolo, mas fiquei bastante impressionado pela potência do som que esses dois arrancam de seus instrumentos.
Eis o que foi dito sobre os caras (a tradução, novamente, é livre):
“A produção de Brian ‘Danger Mouse’ Burton – que já havia trabalho em faixas do último disco de Ike Turner – transformou Attack and Release em um trabalho multicolorido: uma mistura psicodélica com raízes de R&B, Brit-invasion em seu estado mais bruto e blues.” Will Hermes, Rolling Stones
“Entre as duplas mais expressivas do rock, como The Kills e The White Stripes, os caras do Black Keyes são os menos afetados pelas mudanças na indústria. Por isso, não é de se estranhar que o som cru e com riffs pesados ilustra uma vida que parece mais com uma experiência de Jimi Hendrix.” James Barry, Amazon.co.uk
Ficha Técnica
Attack and Release - The Black Keyes
Lançamento original: abril, 2008
1- All You Ever Wanted (2:55)
2- I Got Mine (3:58)
3- Strange Times (3:09)
4- Psychotic Girl (4:10)
5- Lies (3:58)
6- Remember When (Side A) (3:21)
7- Remember When (Side B) 2:10
8- Same Old Thing (3:08)
9- So He Won't Break (4:13)
10- Oceans & Streams (4:13)
11- Things Ain't Like They Used To Be (4:54)
Opinião própria: "Psychotic Girl" e "I Got Mine" já valem o disco.
Ouça no My space.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Hora de Rush
Então vamos lá! O show vem em uma caixinha estilo digipack com dois CDs: um de extras e outro com a apresentação de mais de duas horas no Maracanã lotado, em 2002. Cada minuto é valioso. O que mais empolga é que os brasileiros são loucos pelo trio canadense, tanto que os músicos fizeram uma produção incrível. Para se ter uma idéia, foram usadas 22 câmeras e o som é do caralho (fica ainda melhor se você conseguir escutar em algum home theater).
Todas as grandes músicas dos caras, que vem colecionando hits desde o fim dos anos 70, foram selecionadas para o momento. “Closer to the heart”, inclusive, foi especialmente dedicada aos cariocas, que parecem eleger o tema como favorito. Já as minhas preferidas são “The Pass” e “Bravado”, que são das mais melodiosas. As pesadinhas também são muito boas, como "YYZ", mas é nas lentas que o baterista Neil Peart arregaça. Na verdade ele destrói, com sempre, em todas as músicas e, é claro, faz um solo fantástico em determinada hora. Só é uma pena que o batera não abra espaços para improvisações: todas as notas que toca podem ser ouvidas exatamente nos mesmos lugares em outras ocasiões.
O DVD ainda tem algumas faixas secretas, umas entrevistas... Enfim, a banda valoriza o seu dinheiro mesmo. Outra coisa boa é que quase todas as faixas podem ser encontradas no YouTube (separei duas boas pra vocês darem uma olhada no final). E para saber ainda mais, dê um pulinho no site oficial dessa produção.
Ficha técnica
Lançamento original: outubro de 2003
Gravadora: Atlantic/Anthem
Músicas
1. Tom Sawyer - 5:04
2. Distant Early Warning - 4:50
3. New World Man - 4:04
4. Roll the Bones - 6:15
5. Earthshine - 5:44
6. YYZ - 4:56
7. The Pass - 4:52
8. Bravado - 6:18
9. The Big Money - 6:03
10. The Trees - 5:12
11. Freewill - 5:48
12. Closer to the Heart - 3:04
13. Natural Science - 8:34
14. One Little Victory - 5:32
15. Driven - 5:22
16. Ghost Rider - 5:36
17. Secret Touch - 7:00
18. Dreamline - 5:10
19. Red Sector 'A' - 5:16
20. Leave That Thing Alone - 4:59
21. O Baterista - 8:54
22. Resist - 4:23
23. 2112 - 6:52
24. Limelight - 4:29
25. La Villa Strangiato - 10:05
26. The Spirit of Radio - 5:28
27. By-Tor and the Snow Dog - 4:34
28. Cygnus X-1 - 3:12
29. Working Man - 5:48
30. Between Sun & Moon - 4:51 (somente no CD)
31. Vital Signs - 4:58 (somente no CD)
The Pass
Bravado
domingo, 20 de julho de 2008
O show perfeito do AC/DC
Esse disco representa para mim a essência de um bom show de rock. Introdução incrível com a veloz “Riff Raff”, diversão com “The Jack” e um final digno da maior banda da época com “Let There Be Rock”.
Preciso abrir um espaço aqui para falar do guitarrista Angus Young, nascido em Glasgow, Escócia. O raio que cruza o nome AC/DC representa o que esse cara faz em cima do palco: os riffs poderosos, os solos pontiagudos e a movimentação louca pra lá e pra cá fazem dele o guitarrista mais elétrico que eu já vi. A formação musical adquirida dos grandes nomes do blues norte-americano, como Muddy Waters, deixam Angus à vontade para movimentar-se entre solos lentos e doloridos, enquanto que seu pulsante desejo de balançar a cabeça ao ritmo pesado e metálico produzido pelos companheiros de banda também o deixam à vontade para marretar sua personalizada Gibson SG sem piedade.
Ouçam.
If You Want Blood You've Got It - AC/DC
Músicas para download - Vol. 1 e Vol. 2
1 - Riff Raff (5:10)
terça-feira, 15 de julho de 2008
Novo clipe do Radiohead no Google
domingo, 13 de julho de 2008
Finalmente
P.S.: FELIZ DIA MUNDIAL DO ROCK
A guitarra do Blur
Albarn já estava com dois pés no experimentalismo pop. O primeiro álbum da banda de desenho animado Gorillaz consegue ser ousado e irrestível em sua mescla de trip-hop e qualquer outra coisa que não fosse o Blur. Entretanto, o último disco de sua sobrevivente banda, Think Tank é chato e pretensioso - gravar no Marrocos não ajudou em nada e, sim! como fez falta a guitarra criativa, às vezes caótica e ruidosa, às vezes bela e com timbre puro de Fender Telecaster de Graham Coxon, aquele cara com vozinha tímida que canta no clipe da caixinha de leite - esse você viu né?
Na mesma medida que Think Tank é chato, o disco Happiness in Magazines de Coxon é excelente, e com ele você consegue entender qual papel o guitarrista desempenhava na banda. Era ele que pegava as viagens experimentais e às vezes estranhas demais de Albarn e dava a elas a roupagem de rock com guitarra distorcida que o Blur pedia. Já indiquei aqui a faixa "Bittersweet Bundle of Misery", mas o disco todo é bom. Está aí.
P.S.: felizmente, Damon Albarn voltou a acertar com The Good, the Bad and the Queen, mas aí é outro assunto.
P.S.: É realmente um disco solo este do Graham Coxon. Ele tocou tudo, exceto arranjos de corda/sopro e algum orgão e piano.
- "Spectacular" – 2:48
- "No Good Time" – 3:21
- "Girl Done Gone" – 3:57
- "Bittersweet Bundle of Misery" – 4:53
- "All Over Me" – 4:16
- "Freakin' Out" – 3:42
- "People of the Earth" – 3:04
- "Hopeless Friend" – 3:22
- "Are You Ready?" – 4:42
- "Bottom Bunk" – 3:16
- "Don't Be a Stranger" – 3:29
- "Ribbons and Leaves" – 4:11
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Direto do forno: Fleet Foxes
Abro a cartola com uma banda de Seattle chamada Fleet Foxes. Não, eles não tentam carregar o legado do Pearl Jam. Pelo My Space a turma define seu estilo como um folk carregado no barroco de Bach. Tudo bem, parece chato, mas não é!
As comparações e os adjetivos foram tirados de uma ótima resenha publicada hoje no New York Times A tradução é livre:
- Fleet Foxes combina o velho e melódico country-rock de Crosby Stills Nash & Young com o estilo despojado de My Mourning Jacket e Band of Horses.
- A banda de Seattle toca algo que Graham Parsons (ex-The Byrds) chamou de música cósmica americana.
- As harmonias vocais do grupo soam como uma mistura de Brian Wilson e Wayne Coney, do Flaming Lips. (Desculpa, mas essa eu não concordo!)
Opinião própria: os caras construíram um som suave e gostoso de se ouvir ao pôr-do-sol com uma garrafa de tereré a tira-colo. As músicas “Sun Giant” e “Mikonos” são atmosféricas (!?).
O disco Fleet Foxes (primeiro da banda) pode ser encontrado neste bizarro blog: http://baransworld.blogspot.com/2008/06/fleet-foxes-fleet-foxes.html
Um yakisoba da Paulista para quem descobrir qual é a língua desse blog.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Recomendações na Muxtape!
Tem coisa nova na minha muxtape. Recomendo fortemente a música do ex-Blur Graham Coxon, "Bittersweet Bundle Of Misery", além da segunda da lista, "The Police and the Private" dos já citados Metric.
Até!
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Ele não precisa de pedal
Brian Setzer é um exemplo de técnica aliada ao bom gosto. Sim, ele toca muito, é um monstrinho que consegue desferir notas rapidamente. Ele poderia usar esse super poder a serviço do mal e gravar um disco de metal? Talvez, mas graças aos bons céus, ele é uma espécie de louco varrido que resolveu montar uma banda de rockabilly nos anos 80, contanto somente com sua guitarra, uma bateria mínima e um baixão de pau. E os Stray Cats deram muito certo, em uma época em que sintetizadores e sonoridades "modernas" estavam detonando.
Além disso, o cara não só é endorser da Gretsch (ou seja, garoto-propaganda de uma das marcas mais lindas e tradicionais de guitarra do mundo - de bateria também) como tem de fato um modelo com seu nome, a Nashville Brian Setzer Signature. Repare: no lugar de potenciômetros normais, dados de seis lados, além de sua assinatura. Uma guitarrinha dessas em lojas brasileiras sai por uns R$20.000, ou seja, "praticamente não compensa". Artigo de luxo mesmo - e ela é de fato uma jóia.
O disco de hoje é o excelente 13, de 2006, que traz uma pegada mais roqueira do que os trabalhos que Setzer gravou com a Brian Setzer Orchestra. O som é sensacional e o timbre do guitarrista, bem característico. Vale a pena conhecer o álbum, com especial atenção à faixa "Really Rockabilly", em que ele tira uma onda da galera que fica rotulando gêneros e subgêneros.
Ficha Técnica
Brian Setzer - 13
Músicas para download
- "Drugs & Alcohol (Bullet Holes)" - 4:57
- "Take A Chance On Love" - 4:01
- "Broken Down Piece Of Junk" - 2:43
- "We Are The Marauders" - 2:28
- "Don't Say You Love Me" (Matt Rocker) - 3:19
- "Really Rockabilly" - 3:09
- "Rocket Cathedrals" (Robert Bryan) - 2:51
- "Mini Bar Blues" - 2:03
- "Bad Bad Girl (In A Bad Bad World)" - 4:29
- "When Hepcat Gets The Blues" - 2:49
- "Back Streets Of Tokyo" - 4:48
- "Everbody's Up To Somethin'" - 2:47
- "The Hennepin Avenue Bridge" - 3:09
MUXTAPE da semana (2)
Essa brincadeira de muxtape realmente é divertida! Ainda estamos no processo de colocar uma por semana aqui no Ferrugem! Mas pelo jeito só eu lembrei... Fica aqui o convite para os outros colunistas do Ferrugem.
Tentei diversificar um pouco nessa! Dificilmente irá agradar a todos... Começa com uma clássica do Grateful Dead, do disco American Beauty, segue uma da Banda Black Rio e depois a lindíssima “Homeless”, da época em que Paul Simon ficou fascinado pelos cantos sul-africanos.
terça-feira, 8 de julho de 2008
O legado do Wilco
Verdade que eu sou um pouco exagerado, sempre falo que tal coisa é “a melhor que há”, sou um pouco vítima da minha empolgação. Mas, no caso do Sky Blue Sky, a coisa é séria. As canções são tão belas, tão bem gravadas, os solos de guitarras são tão bem construídos que dá até raiva. Parece que o Wilco ouviu todas as bandas com influências dos anos 70, percebeu todas as falhas e clichês e entregou o disco dizendo a todas: “ó, é assim que se faz”. Mas o que me deixou mais estarrecido é o fato de o disco não ser só um apanhado das principais influências da banda (claramente Neil Young e Bob Dylan), mas também mostrar uma personalidade forte, tanto nos arranjos quanto nas composições.
Quem ouve a talvez melhor música do disco, “Impossible Germany” (não tenho palavras para descrever a beleza dessa faixa), consegue perceber uma ternura que tanto Neil Young quanto Bob Dylan não têm. Obviamente não estou falando que o Wilco é melhor que esses dois cânones, só estou falando que ambos, normalmente, não se mostram tão delicados em suas músicas e letras quanto a banda americana. Repito, não estou dizendo que Dylan e Young não são sutis, ternos e delicado, pelo contrário. Mas o eu-lírico do Wilco, por se expor demais nas letras e nas músicas, acaba trazendo uma carga emotiva muito grande, mais passiva do que nas obras das duas principais referências da banda. Em suma, o Wilco, principalmente em Sky Blue Sky, mostra uma fragilidade sem pieguice (leia-se, uma fragilidade nem um pouco emo) muito patente.
Para exemplificar o que eu digo, cito uma parte da letra da música que dá o título ao disco, que consegue ser ao mesmo tempo acanhada e incisiva, frágil e cruel: “With a sky blue sky / This rotten time / Wouldn’t seem so bad to mee now / Oh, I didn’t die / I should be satisfied / I survived / That’s good enough for now”. Sem discutir se o trecho é autobiográfico ou não, fica claro quão explícitas as letras são, o eu-lírico se desnuda de uma forma absolutamente aberta. É um chute (o bom do Ferrugem é poder chutar à vontade), mas, ao meu ver, esse recurso estético corajoso tem muito a ver com os dias de hoje. As metáforas e os floreios já foram por demais explorados, por isso, é muito bem vinda uma letra que seja fácil de entender. É muito mais bem vinda uma metáfora que embeleze a imagem e não a turve. Nesse sentido, acho que o Wilco entendeu bastante a obra de John Lennon, no melhor estilo “I’m Lonely / Wanna die”.
Outro trecho, que discute o fazer artístico de forma muito bonita e (de novo) explícita aprece na música “What Light”: “If you feel like singing a song / And you want other people to sing along / Just sing what you feel / Don’t let anyone say it’s wrong”.
O instrumental do disco também carrega a mesma aparente fragilidade, com instrumentos limpos e bem tocados e sem muitas grandiloqüências. Mas, como acontece nas letras, cada nota emitida por cada instrumento é tão estudada, tocada com tanta perfeição e feeling (o tal feeling é um outro bom tema para um post no Ferrugem), que, em quase todas as músicas, eu consegui (falo em primeira pessoa porque isso já é muito pessoal) me emocionar. Os solos de guitarra são um capítulo à parte. O guitarrista solo, Nels Cline, mostra nesse disco que é um dos melhores guitarristas dos nossos tempos. Suas frases são dificílimas, com momentos de virtuose que lembram até o meu querido metal (parece até que o fim do solo de “Side With Seeds” foi feito para nenhum fã de Satriani encher o saco), mas nunca esquecendo os ensinamentos do papai Young: sentimento acima de tudo. O disco é ainda mais impressionante por ter sido gravado inteiramente ao vivo, o que mostra trata-se de uma banda afiadíssima e com certeza é excelente ao vivo.
Enfim, como sempre faço, me empolguei e acabei escrevendo demais. No fim das contas, o Wilco é talvez a banda que melhor carregou o legado de Bob Dylan, Neil Young e Beatles, por isso é tão foda.
Outro fato importante de ser lembrado é que o Wilco é uma banda com muitos anos de carreira e outros discos excepcionais, como o Yankee Hotel Foxtrot, que traz mais clara a influência dos Beatles na banda.
A faixa “Impossible Germany” pode ser ouvida na muxtape do João Victor, amigo do pessoal do Ferrugem e guitarrista do Bazar Pamplona.
Sky Blue Sky - Wilco
lançamento oringinal: 15 de maio de 2007
Músicas para download
1-"Either Way" – 3:05
2-"You Are My Face" (Tweedy, Cline) – 4:38
3-"Impossible Germany" (Tweedy, Wilco) – 5:57
4-"Sky Blue Sky" – 3:23
5-"Side with the Seeds" (Tweedy, Jorgensen) – 4:15
6-"Shake It Off" – 5:40
7-"Please Be Patient with Me" – 3:17
8-"Hate It Here" (Tweedy, Wilco) – 4:31
9-"Leave Me (Like You Found Me)" – 4:09
10-"Walken" (Tweedy, Wilco) – 4:26
11-"What Light" – 3:35
12-"On and On and On" (Tweedy, Wilco) – 4:00
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Viajar para
Falar que esse álbum é produto somente da suave e fantasmagórica (obrigado André!) voz de Erasmo Carlos e de seus arranjos poéticos é pouco.
O cara contou com uma “tremenda” ajuda de vários colegas: os mutantes Sergio Dias, Liminha e Dinho tocam como músico de apoio, o doido Lanny Gordin (que já havia tocado com Gal Costa) e o maestro tropicalista Rogério Duprat também participam. A lista não acabou. A faixa de abertura, a melosa “De noite na cama” é do Caetano, o gingado de Jorge Ben aparece na psicodélica “Ninguém Chora Mais”, e a dupla Marcos Valle e Taiguara rouba a cena com a despretensiosa “26 anos de vida normal” e com “Dois animais na selva suja”.
Mas e aí, como o cara que era símbolo da “revolução ingênua”, queridinho das queridinhas da Jovem Guarda deixou isso tudo de lado? Em parte por que Erasmo Carlos havia acabado de trocar de gravadora e passou a ter mais liberdade para trabalhar seu lado mais introspectivo. Conseguiu assim unir estilos musicais nordestinos em suas canções e adotar as inovações do rock dos anos 70. Assim, acaba-se com o ie-ie-ie chato de outras épocas e passa a compor músicas profundas e sofisticadas.
A parceria com o rei Roberto Carlos também tomou rumo mais maduro. Rendeu até a mais celebrada música do disco: a ode “Maria Joana”, abusado samba-rock (ahhh odeio isso) com batuques caribenhos e letra bastante... Bom, não precisa nem falar. O momento bíblico, que não poderia faltar quando se fala de Roberto & Erasmo, fica por conta de “Sodoma e Gomorra”. Puta merda não? Tema bastante sugestivo, também.
Imaginem o clima durante as gravações: “Pô ali estão quase todos os Mutantes, o (guitarrista) Lanny Gordin, o Taiguara toca piano no disco e não está com o nome na ficha. Teve a Caribean Steel Band e foi muito legal gravar com tambores de lata. O estúdio ficava uma festa com esse pessoal todo.”
Essa entrevista eu achei no site Vagalume, sei lá...
No site oficial, Erasmo Carlos também fala um pouco do disco, vale a pena
Ah, curiosidade. Para quem gosta de listas: Carlos Erasmo foi votado, entre uma lista de 100, o 31º melhor álbum da música brasileira, atrás de coisas duvidosas, como Dois, do Legião Urbana, Nós vamos invadir sua praia, do Ultraje a Rigor... ixi, comprei briga?
PS - A música "Dois animais na selva suja da rua" está na muxtape do Juliano.
Carlos Erasmo – Erasmo Carlos
Lançamento original: julho, 1971
2- Masculino, feminino
3- É preciso dar um jeito, meu amigo
4- Dois animais na selva suja da rua
5- Gente aberta
6- Agora ninguém chora mais
7- Sodoma e Gomorra
8- Mundo deserto
9- Não te quero santa
10- Ciça, Cecília
11- Em busca das canções perdidas nº 2
12- 26 anos de vida normal
13- Maria Joana