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terça-feira, 27 de maio de 2008

A geração espontânea do King Crimson



O King Crimson não é só um dos maiores pilares do rock progressivo como seu primeiro disco é o marco inicial do estilo musical,
mas nem só de In The Course Of The Crimson King vive a banda inglesa. Esse era o único disco que eu conhecia, até que, há poucos dias, um amigo me emprestou Red, o sétimo álbum de estúdio da banda, gravado em 1974 sob uma atmosfera de intensas brigas e com uma formação que só não é totalmente diferente da original porque mantinha o genial guitarrista Robert Fripp. Obviamente fiquei receoso, até porque sempre tive um certo preconceito com bandas progressivas muito cabeçudas, apesar de sempre gostar de uma ou outra coisa (além de Pink Floyd, que eu nem acho que seja tão progressivo assim, mas isso é tema para um outro post). Como eu tenho em alta conta quem me indicou, resolvi dar uma chance.

Deparei-me com um baita discaço, nada datado, com uma pesquisa de timbres de guitarra, bateria e baixo muito original e com muito menos punhetagem progressiva do que eu havia imaginado encontrar. As músicas são longas (são apenas cinco) e têm várias partes, seguindo a cartilha das bandas do gênero, mas não priorizam a técnica pela técnica e sim a própria música e o resultado final de tudo.

Vou tentar descrever um pouco do que ouvi. As guitarras de Fripp trazem um timbre pesado e grave, com riffs poderosos e dissonantes. Ao mesmo tempo o baixo de de John Wetton está sempre distorcido e um pouco agudo, funcionando quase que como a guitarra base da banda. A bateria de Brufford é impecável, com um pé no jazz e outro no rock – mas sem muito virtuosismo – e traz até um flerte com alguns timbres eletrônicos. Há ainda, em algumas músicas, a participação de algumas cordas de orquestra e um saxofone que, diferentemente de 90% do uso desse instrumento no rock, não soa nem um pouco brega. O disco como um todo soa bastante cru, ousado e pungente. O resultado final é quase que um pouco opressivo e intimidador e, para justificar minha editoria no ferrugem, muito pesado. O único senão, talvez, seja a faixa tocada ao vivo "Providence", que destoa um pouco do resto do disco por mais parecer uma peça de música erudita dodecafônica do que propriamente um tema de rock. Mas, depois de algumas audições, eu passei a gostar muito dela.


Quando ouvi não pude deixar de relacionar o som de Red com o que hoje é conhecido como post rock, estilo de música com pouquíssimo (ou nenhum) vocal tocado com instrumentos de rock que traz elementos de jazz, punk, e música erudita contemporânea. As bandas mais conhecidas desse estilo, como Tortoise, Mogwai e, aqui no Brasil, Hurtmold são consideradas por muitos hoje o exemplo do que há de mais moderninho no rock. Mas, sério, o King Crimson fez isso, e melhor, muitos anos antes. Outras bandas que muito provavelmente ouviram o disco são as conhecidas como neo-progressivas, como The Mars Volta e Tool, que, assim como Red, não trazem a chatice parnasiana (para fazer um paralelo com a literatura) de bandas como Yes e Gentle Giant, mas usam e abusam de tempos complexos e arranjos alternativos que fogem da simplicidade.
O disco me impressionou tanto que eu até queria saber se alguém tem um exemplo de album parecido, porque pra mim ficou a impressão de que Red é uma espécie de acontecimento único, um discreto presságio do que aconteceria muitos anos depois. Tenho quase certeza que é ignorância minha, pois acho difícil que algo tão diferente e genial tenha aparecido assim do nada, como se fosse uma geração espontânea artística.

Depois, pesquisando para fazer esse post, vi que um dos adoradores do disco foi Kurt Cobain, que chegou a dizer que Red “é o melhor disco de todos os tempos”. Vi também que a revista Q classificou o album do King Crimson como um dos 50 mais pesados da história. Eu não chego a ser tão entusiasmado como o falecido guitarrista e vocalista do Nirvana nem acho que Red é tão pesado assim, mas é bom saber que eu não estou sozinho ao realmente achar que esse disco é um pouco extraterreno.
Por fim, uma curiosidade. Red nunca chegou a ser tocado ao vivo porque o King Crimson acabou dois meses depois do lançamento do disco e só voltaria à ativa em 1982, já com outra formação. Será que foi porque eles tinham a impressão de que não fariam nada melhor? Besteiras à parte o download está abaixo e vale muitíssimo a pena.

PS: a única foto que realmente é relativa ao período de Red que encontrei é a da própria capa do disco logo abaixo. As outras só coloquei para fazer uma graça. A foto que abre o post mostra a primeira formação da banda. A foto com a cara assustada é a capa do disco In The Court Of Crimson King.
Ficha técnica
Red - King Crimson
Lançamento original: novembro de 1974
Gravadora: Atlantic Records
Duração: 39:55
Produção: King Crimson



Músicas para download


1 - Red (Robert Fripp) - 6:16
2 - Fallen Angel (Fripp, Richard Palmer-James, John Wetton) - 6:03
3- One More Red Nightmare (Fripp, Wetton) - 7:10
4 - Providence (Brufford, Cross, Fripp, Wetton) - 8:10
5 - Starless (Brufford, Cross, Fripp, Palmer-James, Wetton) - 12:16

3 comentários:

Anônimo disse...

malandro, hein?

Sergio disse...

Ô, brodi, não põe o gigantinho gente boa - o Gentileza dos dinossauros - ao lado do Yes, como farinha do mesmo saco não que você fere suscetibilidades, rapaz... Nem sou esse tipo-fã-de-banda que sai brigando por suas predileções, mas enquanto acho o Yes o suprassumo da chatisse, amo a quebradeira Giant rabelaisiana (voltando à literatura).

Por outro lado, veja: vc diz em seu texto que só agora conheceu "Red" (precisa urgentemente, além do In The Court... ouvir a obra setentista dos caras, embora concorde contigo que Red é dos mais phodaralhaças), até aqui, normal. Mas, nessa proporção, o quanto você conhece sobre a banda dos irmãos Shulman pra associá-la - quase como univitelíneos - dos 'colega' de Rick Wakeman e Patrick Moraes? Sem ofensa, please - Aliás, quem se ofendeu fui eu!
Abraços. Visite mi casa.
http://sergiosonico.blogspot.com/

Sergio disse...

Juliano, na boa, Gentle Giant não tem muito a ver com Yes. Eu diria "nada a ver" se os dois não fizessem parte do mesmo movimento musical. Mas, nem na técnica se assemelham. Embora ainda haja muita gente que os compare. O que vejo, satisfeitaço, aliás, é que com o nascimento da Rede, muitos fãs começaram a dirimir essa confusão. E muitos inimigos ou quase isso, do progressivo, pintaram simpáticos à banda dos irmãos Shulman. Saiba que, geralmente, quem ama o Yes, no mínimo, aprecia Gentle Giant. Já a recíproca, nem sempre é verdadeira. Reouça sim - com mais atenção a banda do gigantinho.
E ainda te passo o link para a obra completa dos caras:

http://gravetos-berlotas.blogspot
.com/search?q=gentle+giant

Recomendo entusiasticamente, Three Friends, Octopus, In A Glass House, Power And Glory, Free Hands, Interview... E quando se conhece esses trabalhos em estúdio, ao ouvir o Playng Fool ao vivo, recomenda-se acrescentar um babador nessa audição.
No fim das contas, só o que posso desejar é: Divirta-se!