Bom, o cenário é o seguinte: os Beatles acabaram há um ano atrás, e cada um resolveu ir pro seu canto. O primeiro trabalho solo do Paul havia sido lançado quase que junto com o último disco da banda, o tumultuado Let It Be. Se isto já era razão para celeuma, o conteúdo do disco só aumentava o estranhamento para com o público. O álbum McCartney, totalmente feito em casa, continha algumas boas canções (inclusive “Teddy Boy” que chegou a ser ensaiada pelos Beatles) e algumas linhas geniais como “Junk” e a mais famosa do álbum, a avassaladora “Maybe I'm Amazed”, mas em sua maioria, as faixas continham praticamente idéias, recortes e músicas instrumentais. Estranho, já que estamos falando do Paul McCartney. Então o que esperar de um álbum vindo do ano seguinte, mais experimentos e idéias desconexas? Exatamente o contrário.
Ram trouxe Paul de volta ao holofotes depois de uma espécie de auto-exílio em uma propriedade no campo, na Escócia, apenas com sua mulher e suas duas filhas na época. O trabalho acabou sendo uma espécie de terapia para um artista que passou toda a sua carreira como um integrante de um grupo. Gravado em Nova Iorque, e assinado por Paul e sua mulher Linda Eastman McCartney (por razões judiciais), Ram é no mínimo um álbum excelente: não posso discutir com aqueles que consideram este o melhor álbum da era pós-Beatles.
Muito mais bem trabalhado que seu antecessor, e mesmo assim com uma sonoridade aconchegante, com esse disco Paul conseguiu mostrar ao mundo que não, a sua capacidade de criar canções inovadoras, extremamente melódicas e às vezes complexas não havia esmaecido: observe o arranjo emocionante de “Dear Boy”, ou a progressão de “Uncle Albert/Admiral Halsey”, que na verdade é mais uma de suas suítes, ou seja, uma música composta por outras musiquetas combinadas – como “Band on the Run”. Monkberry Moon Delight é outra das faixas absolutamente geniais, em que, como poucos conseguem fazer, Paul criou uma atmosfera lunática e bem-humorada, com um vocal agressivo, que me parece um tanto inspirado em Little Richard. Antes de ir para um parágrafo abaixo, também recomendaria a brian-wilsoniana “The Back Seat of My Car” e é claro, uma das faixas-bônus mais tocadas do planeta – na época ela saiu como single - “Another Day, que possui uns três andamentos diferente, uma letra belíssima e a melodia... bom, vocês sabem como Paul McCartney é foda - porque ele consegue fazer tudo isso sem parecer cabeçudo ou pretensioso. Flui e pronto, você aceita isso e admira.
No fundo, eu não poderia indicar somente essas faixas, porque o disco inteiro é lindo, e sim, desta vez estamos falando de um puta clássico, seu velho cão safado.
ps: na época, dizem por aí que "Dear Boy", "Too Many People" e "The Back Seat of My Car" continham elementos que se referiam ao John Lennon. Pessoalmente, acho que é paranóia de gente querendo achar significado em tudo. Mais um ponto pra você: puxe o disco e me conte o que você achou.
Ficha Técnica
Paul & Linda McCartney - Ram
Lançado em 1971 (esse disco que você vai puxar é a reedição em CD, com faixas bônus)
Produtor: Paul & Linda McCartney
- "Too Many People" (P. McCartney) – 4:10
- "3 Legs" (P. McCartney) – 2:48
- "Ram On" (P. McCartney) – 2:28
- "Dear Boy" – 2:13
- "Uncle Albert/Admiral Halsey" – 4:55
- "Smile Away" (P. McCartney) – 3:53
- "Heart of the Country" – 2:22
- "Monkberry Moon Delight" – 5:22
- "Eat at Home" – 3:20
- "Long Haired Lady" – 6:05
- "Ram On" (P. McCartney) – 0:55
- "The Back Seat of My Car" (P. McCartney) – 4:28
- bônus: "Another Day"
- bônus: "Oh Woman, Oh Why"
- bônus: "A Love for You" (outtake!)
- bônus: Jam Session: Rode "All Night"
9 comentários:
george se contorseu na tuma..."melhor disco pós-beatles".
Bom, mas deixa disso. Só queria falar que: "maybe i'm amazed" tem a melhor definição de um grito escandaloso e lírico do mundo. as hipérboles podem fazer ruir o mundo no futuro.
contorseu, isso tá certo? ou é contorceu?
tenho a sensação, caro abul, de duas coisas. uma é que você precisa estudar gramática, e outra é que acho que o colunista quis dizer que é o melhor disco pós-beatle do PAUL, já que o post é sobre ele...
E o célebre inimigo das forças sacro-imperiais romanas germânicas, o imperador mouro Abul Abdallah, escreveu em desastrada linguagem: "george se contorseu na tuma".
aeee galera ferrugem, como uma baterista mulher!! acho uqe nao poderia faltar um do ring tmb .rss rs... mas o paul é mesmo mto fofu!
Além de "contorseu" estar errado, "há um ano atrás" é pleonasmo!!!
Gozado como o Abul tem mais repercussão do que o Paul.
Será que estamos invertendo os papéis e trocando o besouro mais importante por um digitador desastrado?
Ive read this topic for some blogs. But I think this is more informative.
Ah, esse sweep é pra gente clicar nele. Por isso as mensagens tão sem sentido.
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