É maluco como os três são tão parecidos em alguns aspectos – como potência sonora e irreverência –, mas tão singulares em outros. Cada um deles tem uma vantagem que falta ao outro. Somados, não só deixariam o planeta terra em êxtase – como fizeram, de alguma maneira –, mas seriam simplesmente incompreensíveis aos ouvidos de simples mortais como nós.
Ian Paice é o certinho. Postura perfeita, grip impecável, técnica evoluída (como a dos anciões do jazz) e canhoto, só para tornar tudo um pouco mais diabólico. John Bonham era o pedreiro: baquetas como martelos de Thor e precisão de um relógio, tudo isso aliado a uma criatividade emocionante. Keith Moon era o geninho. Segurando a baqueta pelas pontinhas, como se fosse derrubá-las, ele dispensava o chimbal, porque com ele não havia groove, mas um eterno solo com muitas pratadas, bumbos duplos e movimentos de cabeça.
Quem é o melhor? Não sei. Talvez essa não seja a grande questão. Mais fácil é responder quem é o seu favorito. Analisando friamente, o Ian Paice parece ter uma grande vantagem sobre os outros: ele conseguiu sobreviver. Passar pela época de culto às drogas e sair ileso talvez tenha até diminuído seus feitos perante a história, pois não há dúvidas que os dois concorrentes – mortos pelo exagero – sejam mais conhecidos e celebrados. No entanto, a capacidade que Ian Paice ainda tem de ensinar, dar workshops e assinar autógrafos de pequenos entusiastas do instrumento, com certeza supera o glamour de uma lenda.Quando ele toca parece dizer: “Olha nós éramos bons porque fazíamos assim, não porque éramos chapados”. Se Keith Moon estivesse vivo como o colega, talvez tantos bateristas não estivessem plagiando sua pose, mas, sim, sua musicalidade. Com sua imagem de vovô da bateria, ele poderia falar: “Olha, nós éramos parte de uma época de excessos que já acabou. Agora vamos tentar reinventar aquilo que eu tocava, porém dessa vez sem os terninhos e a panca de desajustado”.
Hoje, nós criamos muitos virtuosos e imitões, mas onde estão os salvadores de nosso tempo? Enquanto Deus não manda nenhum outro representante até a Terra, eu fico com aquele que já está um pouco gasto, mas está aí.
Bom, é melhor terminar esse post antes que ele vá para algum lugar mais inesperado do que este em que chegou. Mas antes, uma homenagem ao Ian Paice: meu disco favorita do Deep Purple, aquele que tem as músicas mais famosas da banda, o Machine Head, de 1972.
Machine Head - Deep Purple
1972
1. Higway Star
2. Maybe I'm a Leo
3. Pictures of home
4. Never Before
5. Smoke on the Water
6. Lazy
7. Space Trucking
para fechar, um solo do vovô...
15 comentários:
como vcs sabem, meu preferido é o john bonham. pedrerão caminhoneiro mesmo. mas os outros dois são sensacionais. belo post. assim como há os deuses cristãos, tem os caras da umbanda, como o Iggor Cavalera, que merece menção. Gosto muito do veloz e preciso Dave Lombardo tb.
o ano passado foi pródigo em visitas de alguns excelentes bateristas gringos:
- o pat mahoney, do lcd soundsystem, é sensacional. ao vivo, então, é muito impressionante
- o john stanier, do battles, é um monstro. usa um prato gigante no alto, pros momentos de, digamos, euforia
- o vito roccoforte, do rapture, é como aquela propaganda do carro com os freios bons: mostra que "potência não é nada sem controle"
- o josh freese, que veio com o devo, credenciou-se por tocar com o nine inch nails nas turnês européias. tribal! "freedom of choice" foi a prova.
como reparo ao comentário anterior, parece que a propaganda não é de carro com freios bons, mas de pneus.
tá.
Tem também o Glenn Kotche, do Wilco, que não veio para o Brasil, mas é fudido.
tão fudido como um biscoito recheado passatempo?
Nada é tão fudido quanto uma bolacha passatempo, nem mesmo um pacote de chocolícia.
mas vc quer dizer as antigas chocolícias, não é? as atuais perderam o super poder de chocolate...
Trakinas de morango também é um clássico. Assim como a Calypso.
Calypso é bom? Tá certo que vendeu um monte de disco, mas daí a vc dizer que vale a pena...Aidna mais em um blog com tanta erudição, vc vem falar de Calypso, meu caro?
Que falta de bom senso!
Eu ia comentar do Glenn Kotche do Wilco, mas o Adriano já o fez...
André,
Bem colocado a Trindade Britânica das baquetas imperiais..., mas algumas colocações:
John Bonham não pedreiro, pedreiro somos nós que temos que carregar,montar e desmontar a batera toda vez em que formos tocar e outra o que fez de Bonham um baterista tão impressionante doi que que o mesmo não batia e sim tocava com uma pegada tão impressionante que nenhum técnico de som precisava se preocupar com ele, muito mesnos Page,Plant e Jones.
Ian Paice é o tipo Arqueiro do Rock, ele acerta no alvo todas as notas e é de uma músicalidade impressionante, como Bonham ele herdou aquela coisa do Buddy Rich de show man aliada a marca registrada de seu "straight-Shuffle" no Hi-Hat.
Keith Moon é o Louco da carta do Tarô e como Ringo herdou a herança de "O BATERISTA DE ROCK", coisa que Bonham e Paice não tinham mesmo sendo rock, pois o Background dos mesmos estava no Jazz e no Rithm'Blues.Nos espaços que Ringo Starr tocava, Moon atacava esta a diferença...escute Who Next e você vai entender..
Parabéns puta resenha ..
kadu, não tenho como discordar de tudo que você disse.
Olha, eu gosto do Vinnie Paul, do Pantera. Mas os que têm um lugarzinho no meu coração são mesmo John Bonham e o Dave Lombardo.
pantera suks
oasis 4ever
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