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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A voz das montanhas

Pra quem gosta de música brasileira, acredito que dois livros são essenciais. Um deles é o Noites Tropicais do Nelson Motta, uma espécie de biografia/relato do próprio. Ele narra tudo o que viveu, viu e ouviu, desde quando moleque, encantado com o som de João Gilberto até momentos mais recentes, como suas parcerias com Lulu Santos e trabalhos com Marisa Monte. O cara realmente é uma espécie de testemunha ocular da música. Acontece que seu relato é, muito justamente, mais ligado à cena Rio/São Paulo. Ele não esteve em todos os cantos do país ao mesmo tempo, por isso é que, como um complemento, eu sempre costumo sugerir às pessoas outro livro fantástico, Os Sonhos Não Envelhecem – histórias do Clube da Esquina.

Esse, escrito pelo Márcio Borges (irmão do Lô Borges) é um outro relato no estilo testemunha ocular, que conta, entre outras coisas, como um grupo de moleques ligadassos em música e cinema se tornou uma fonte de criação musical autêntica, com um som muito próprio e que não bebia exatamente das mesmas fontes da galera da Bossa Nova ou da Tropicália. É outra coisa, um ar de montanha, de estrada de terra, de trem maria-fumaça e viagem com os amigos. E também vale a pena ler para montar na cabeça uma espécie de filme. Você consegue ver um molecote negro e magrelo nas escadas do prédio onde os Borges moravam, tocando violão puxando as cordas de uma maneira peculiar (pense na introdução de “Travessia” e no violão dos versos de “Alunar” deste disco) e com uma voz de reverb natural. É meio que de arrepiar.
Pois bem, isso tudo é para você criar uma base de comparação. Estou recomendando aqui um dos meus discos favoritos daquele que se tornou o artista mais famoso do clube, Milton Nascimento.

Este é o álbum Milton de 1970. Eu quase, mas quase mesmo, escolhi o seu disco de 72, entretanto três músicas em especial me fizeram dar preferência a esse. São elas “Alunar”, “Canto Latino” e “Clube da Esquina” (não confundir com a bem mais famosa “Clube da Esquina nº2”). Enfim, como se não bastasse, esse álbum também traz “Para Lennon e McCartney”, que é hit e tem uma guitarra sensacional. A única intrusa é “A Felicidade”, uma bossa de Tom Jobim e Vinícius de Moraes... só que uma intrusa dessas, na voz de Milton (que estava no auge) é sempre bem-vinda.


Uma das características mais interessantes desse disco (assim como de vários outros do Milton, ou do Lô Borges, por exemplo) é que poucas canções são de apenas um só compositor. Eles eram uma espécie de grupo de composição, e produziam muito. Por isso, várias gravadas são parcerias, e parcerias que deram muito certo, como por exemplo a dupla que o Milton formou com o Fernando Brant. Se você for atrás vai ver a quantidade assombrosa de canções lindas feitas pelos dois, como “Canção da América”. “Alunar” é uma canção dos irmãos Borges (Lô e Márcio), enquanto a linda “Clube da Esquina” era uma canção sem letra de Lô e Milton que impressionou tanto Márcio que ele logo começou a trabalhar uma letra. O resultado está aí, entre outras canções de atmosfera única.



Ficha Técnica




Milton Nascimento - Milton Lançado em 1970,

Clique aqui e encontre o Milton (1970) no Rapidshare.

1 Para Lennon E McCartney
2 Amigo, Amiga
3 Maria Tres Filhos
4 Clube Da Esquina
5 Canto Latino
6 Durango Kid
7 Pai Grande
8 Alunar
9 A Felicidade
10 Tema de Tostao
11 O Homem Da Sucursal
12 Aqui E O Pais Do Futebol
13 O Jogo



Aqui, um vídeo de 1997, Milton tocando só com o violão "Clube da Esquina". Comparem as versões...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Metallica decepciona mais uma vez

Pode parecer injusto falar do novo do Metallica tendo escutado só uma música, o single, "The day that never comes". Mas confiem em mim: pela amostra, o álbum Death Magnetic vai ser uma bosta. Talvez não seja tão ruim como o último, St. Anger (2003), mas isso não quer dizer nada. O tema que disponibilizo abaixo lembra mais um metal afetado desses que o Angra fazia aos montes aqui no Brasil. A diferença é que os tiozinhos do trash foram produzidos por Rick Rubin.

Então tenham certeza, não vai ser dessa vez que os fãs mais xiitas verão alguma coisa parecida com o último trabalho que agradou os metaleiros, o premiado Master of Puppets (1986). Já eu provavelmente não vou escutar nada igual ao disco preto (1991), uma porrada no ouvido e meu favorito dos caras. Uma pena!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os arretados Allman Brothers


Li uma notícia interessante sobre brigas entre bandas, gravadoras e o tal do download publicada ontem no New York Times. A banda em questão, aliás, é uma das minhas favoritas.

Diz a pequena matéria que os remanescentes membros do Allman Brothers Band estão processando a gravadora UMG Recordings com base no argumento de “exploração digital”. Liderado por Gregg Allman, o grupo alega que suas músicas foram comercializadas, sem o pagamento devido dos royalties, por meio de CDs não autorizados, ring tones e iTunes. O valor da indenização seria de U$ 13 milhões. Amigo e economista de plantão do Ferrugem, Fernando Ferrari, pode transformar isso em reais por favor?

Não quero entrar no mérito da questão, mas faltou dizer que as “músicas comercializadas” indevidamente foram gravadas entre 1969 e 1980.

Em conversa com o colunista Juliano, tive a idéia de cutucar com a vara mais curta da história uma banda que admiro. Por isso, não me venham processar Allman Brothers, pois disponibilizo aqui o primeiro disco de vocês.


Lançado em 1969, The Allman Brothers Band não foi lá muito bem aceito pelo público, mas foi aclamado pela crítica. Conseguiu atrair atenção somente pelo fato de ter sido um dos pioneiros em resgatar o rock sulista dos Estados Unidos. Formado em uma cidadezinha chamada Macon, Geórgia, estado natal de Ray Charles e outros, o grupo dos irmãos Duane e Gregg Allman traziam em suas composições uma característica única: união entre poderosos riffs que representavam culturalmente a região e uma vertente moderna para criar improvisações.

No disco, dois clássicos que seriam marcas registradas em grandiosos shows realizados em Fillmore East entre os anos de 1970 e 1971. “Dreams” e “Whipping Post” tornaram-se duas das maiores músicas da banda e realmente são registros inquestionáveis da habilidade de Duane tocando slide guitar e de seu irmão Gregg, vocalista e tecladista exuberante. É importante lembrar que Duane morreu dois anos depois do lançamento desse álbum em um acidente de moto, tragédia que viria a repercutir negativamente no som da turma em trabalhos futuros.

Caso essa brincadeira de “bom gosto" ofenda você Gregg, por favor não peça U$ 13 milhões. Somos humildes estudantes de jornalismo.

Ficha Técnica


The Allman Brothers Band – The Allman Brothers Band
Lançamento original: novembro, 1969

Músicas para download

1- Don’t Want You No More (Spencer Davis / Eddie Hardin) – 2:29
2- It’s Not My Cross To Bear (Gregg Allman) – 4:48
3- Black Hearted Woman (Gregg Allman) – 5:20
4- Trouble No More (Muddy Waters) – 3:47
5- Every Hungry Woman (Gregg Allman) – 4:16
6- Dreams (Gregg Allman) – 7:19
7- Whipping Post (Gregg Allman) - 5:19

O video de “Whipping Post”, gravado em Fillmore East. A qualidade é tosca, eu sei, mas vale a pena.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Memória póstuma a Isaac Hayes

O cara tinha uma careca lisinha lisinha e uma voz grossa grossa. Morreu sabe-se lá de que, aos 65 anos, depois de acumular o apelido de músico mais “quente” do funk. Conquistou o povo negro ao fechar o Festival de Wattstax em 1972, resposta musical e política dos “irmãos” ao Woodstock e espécie de celebração dos conflitos ocorridos no subúrbio de Watts, próximo de Los Angeles, em 1965 – fato que culminou com a morte do ativista Martin Luther King.

Quase que política entra de fininho aqui no Ferrugem.


Como o papo aqui é música, meu humilde desejo é realizar uma memória póstuma a Isaac Hayes e comentar o que, para mim, é seu melhor disco: Hot Buttered Soul, de 1969. Pode gritar, espernear e chorar dizendo que a trilha sonora para o filme Shaft, de 1971 é melhor. Bom... gosto, como meu amigo Fel Mendes do Vermute gosta de dizer, é igual braço. Ou você tem ou você não tem.

Como o próprio nome diz, esse disco é amanteigado e quente. A voz sussurrada de Isaac Hayes é um atestado que romantismo precisa ser também sensual e que a soul music é mais que uma dose de três minutos de sentimentalismo. Arranjos incríveis, interpretação classuda e um som que viria influenciar uma geração inteira. Como fica claro pelo tempo de cada música, três acima dos 9 minutos, o músico e seu teclado tiveram total liberdade dentro dos estúdios da Stax, espécie de irmã pobre da Motown; ou melhor, espécie de irmã experimental.

Ficha Técnica


Hot Buttered Soul - Isaac Hayes
Lançamento original: julho, 1969

Músicas para download

1- Walk On By (Burt Bacharach / Hal David) - 12:03
2- Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic (Isaac Hayes / Alvertis Isbell) - 9:38
3- One Woman (Charles Charmer / Sandra Rhodes) - 5:10
4- By The Time I Got To Phoenix (Jimmy Webb) - 18:42

Para aqueles que espernearam, a introdução de Shaft, em Wattstax. "The baaaad motherfucker".

domingo, 10 de agosto de 2008

Chapei

Já achava o novo disco do Portishead, Third, um dos melhores do ano, senão o melhor. Mas o pirado novo clipe da maravilhosa música The Rip não precisa nem de um escrutínio mais dedicado. Já é, sem hesitar, o melhor do ano, aliás, o melhor clipe de uns dez anos pra cá.

Ouça alto:

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

rock galês

Primeiro, eu ia colocar uma bela coletânea do Bread. Aí comecei um texto, mas as férias me deram uma preguiça-bloqueio. Não ia pra frente. Depois, pensei em colocar um disco meio esquecido dos Beatles, estava com ele na mão, mas mudei de idéia. Como faz tempo que eu não escrevo nada aqui no blog, ou seja, estava de fato enferrujado, resolvi escolher algo relativamente raro, que talvez seja mais difícil de encontrar e realmente diferente. Olhei para uma pequena pilha de discos que tenho aqui na minha frente. O nome mais esquisito era esse: Gorky's Zygotic Mynci. Achei meu post.


Bom, o negócio é o seguinte: Essa era uma banda do País de Gales, e não é à toa que muitas das músicas, além do próprio nome do grupo, estão em galês (zygotic lembra aulas de biologia, mas parece que mynci quer dizer macaco... não ajuda né?). Lembro que descobri a banda assistindo o Lado B da MTV e, meio que perdido na programação, estava um clipe deles. Era da música “Spanish Dance Troupe”, que inclusive é uma das melhores do disco e tem um clipe meio cigano, meio espanhol e meio chapado. Parece realmente a trilha de uma viagem que você está fazendo com uma trupe de dança espanhola e vocês estão indo até a Romênia.



No mais, canções que conseguem juntar o pop melódico típico de bandas britânicas desde os Beatles com esquisitices galesas – pra não forçar a barra e dizer que “oh, eles fazem um som folk”, porque, como disse antes, esse termo já encheu o saco – e barulheiras divertidas de guitarras, que criam sons ambientes e psicodélicos. Na primeira faixa, fique atento à cigarra e deixe o disco rolando, a segunda faixa é fodida e a última, um mini-épico emocionante. O disco é realmente bom, e a voz de Euros Childs (sim, mais um nome esquisito) é de timbre peculiar e doce.

Ainda que seja somente para constar como a banda com nome mais zoado que você já ouviu, Spanish Dance Troupe é um dos melhores álbuns feitos na década de 90 na ilha da rainha e que conseguiu de maneira muito pessoal fugir da típica sonoridade presa entre a briga Oasis x Blur. É uma outra coisa. É som de caipira, véi. Preste atenção no sotaque.

Ficha Técnica



Gorky's Zygotic Mynci - Spanish Dance Troupe
Lançado em 1999



1."Hallway"
2."Poodle Rockin'"
3."She Lives on a Mountain"
4."Drws" (James)
5."Over and Out" (E. Childs, James)
6."Don't You Worry" (M. Childs)
7."Faraway Eyes" (E. Childs, James)
8."Fool" (James)
9."Hair Like Monkey"
10."Spanish Dance Troupe"
11."Desolation Blues"
12."Murder Ballad"
13."Freckles"
14."Christmas Eve"
15."Humming Song"

Respostas

Pois bem, suas chances acabaram. O cachorro-quente com batata-palha da semana passada será guardado para o próximo desafio.



As respostas (não que sejam importantes, afinal ninguém participou):



1- So Sad (George Harrisson, The Dark Horse, de 1974)



2- Feelin' Blue (Creedence Clearwater Revival, Willy and the Poor Boys, de 1969)



3- Worry, Worry (Buddy Guy, A man and the blues, de 1968)



4- Whoa Mule (The Black Crowes, Warpaint, de 2008)



5- Love in vain (The Rolling Stones, Let It Bleed, de 1969) - A versão original é de Robert Johnson, bluseiro do Delta do Mississippi

6- Nature's Disappearing (John Mayall, USA Union, de 1970)



7- Blues Boys Tune (B.B. King, Blues on the Bayou, de 1998


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Blues para todo o sempre

Segunda-feira é o dia mais triste de todos. Aproveitando o clima, fiz uma coletânea de blues de maneira bem preguiçosa para renovar minha MUXTAPE.

Coloquei apenas os nomes das músicas na esperança de criar aqueles joguinhos Flash Pops da vida. Tem coisa boa aí como "Worry, Worry" de um dos guitarristas mais soul do blues e a melancólica "Love In Vain"!

Quem acertar todos os músicos/bandas ganha um cachorro-quente especial da República da Farofa, com direito a bata-palha da semana passada.

Sem vergonha gente: podem mandar as respostas ai mesmo no botão de comentários!