E o Ferrugem esteve mais uma vez dormindo... O último post foi há mais de uma semana, mas os motivos são interessantes! A turma que aqui escreve deixou para trás a crítica musical por um tempinho – ou seja lá o que nós fazíamos – para tocar um projeto paralelo que, esperamos, trará mais frutos do que a brincadeira de brincar de jornalista.
Abrimos mão de tudo isso para, ao lado de Fel Mendes, do Vermute Com Amendoim, e Marcelo Cobra, do E Digo Mais, ajudar uma turminha de amigos a divulgarem suas músicas em uma balada no dia 17 de outubro, no Hotel Cambridge, São Paulo.
Em sua terceira edição, o Fel Rock Fest – antes uma festa caseira, agora com um leve toque de profissionalismo – é a chance de você conhecer pessoalmente quem escreve aqui: a galera do Benjamins, com André Spera e Juliano Coelho dividindo a guitarra e o baixo, ao lado de Adriano Conter na bateria. A noite também contará com a banda Rosebud, mais um projeto de Juliano e amigos em comum. Nos intervalos, os DJ's Tchu e Cobra soltam nas pickups tudo de bom que já passou por este blog e mais um pouco.
A Mitsubishi FM 92,5 é uma das novas rádios de São Paulo. Na primeira vez que parei para ouvir a programação, a impressão foi muito boa – fiquei surpreso em ouvir Beatles, e além disso, uma das obscuras e uma das minhas favoritas do Lennon, “Hey Bulldog!”. Mas não é exatamente sobre essa música ou sobre Beatles que quero falar. Na verdade, eu escrevo dessa vez para falar mal, e olha que eu sempre evito detonar alguma coisa, até porque outros colunistas do Ferrugem tem mais habilidade para destruição do que eu, e esse é um dom especial, que admiro bastante, até pelo poder cômico que isso tem.
O fato é que por mais que uma rádio seja boa, ela não é um álbum de uma banda que você gosta, por isso mesmo, uma hora coisas ruins aparecem. Bom, era de manhã e eu sintonizei pra ouvir alguma coisa enquanto me barbeava. Ok, começamos com Rolling Stones, ótimo. Depois Journey – rock farofa anos 80, bom? Não. Divertido? Sem dúvida... até que chegamos em Nickelback: cruzes.
Esforço-me ao máximo para colocar em palavras o quanto acho Nickelback ruim. Em tempo, essa deve ser a pior banda famosa de todos os tempos, isso porque não posso falar de bandas que não conheço. Eles conseguem a proeza de fazer sempre a mesma música. E como se isso não bastasse, irritar o ouvido de todos com aquele rock “nervosinho” mas sensível, e que parece de novo e mais uma vez contar sobre como o vocalista Chad Kroeger está triste, remoendo mágoas a respeito de uma namorada que tipo... morreu em algum acidente de carro (look at this photograph...). Os truques são sempre os mesmos, os instrumentos sempre soam iguais e todos os refrões se encaixam em toda e qualquer música da banda. Isso não é bom. Você pode muito bem me dizer “deixa quieto, pelo menos eles estão ganhando dinheiro sem fazer mal pra ninguém”. Mentira e, se é mesmo assim, eu poderia enumerar pelo menos cem boas bandas que ganharam muito dinheiro fazendo um som de fato bom.
Você, que lê o Ferrugem também poderia, eu tenho certeza disso.
P.S.: eu posso ter tomado um café alucinógeno, mas parece que tocou The Clash no programa da Ana Maria Braga...
Se Deus fosse baterista, invocar a santíssima trindade provavelmente seria algo assim: “Em nome de John Bonham, Ian Paice e Keith Moon, amém”. Pensa só, ninguém nunca fez nada parecido com o que eles criaram. Muito pelo contrário, seus estilos são como um evangelho que todo mundo adota cegamente. E o mais incrível é que eles viveram juntos e não deixaram nada para outras gerações, renegadas ao limbo de décadas infinitamente mais chatas do que a de 70.
É maluco como os três são tão parecidos em alguns aspectos – como potência sonora e irreverência –, mas tão singulares em outros. Cada um deles tem uma vantagem que falta ao outro. Somados, não só deixariam o planeta terra em êxtase – como fizeram, de alguma maneira –, mas seriam simplesmente incompreensíveis aos ouvidos de simples mortais como nós.
Ian Paice é o certinho. Postura perfeita, grip impecável, técnica evoluída (como a dos anciões do jazz) e canhoto, só para tornar tudo um pouco mais diabólico. John Bonham era o pedreiro: baquetas como martelos de Thor e precisão de um relógio, tudo isso aliado a uma criatividade emocionante. Keith Moon era o geninho. Segurando a baqueta pelas pontinhas, como se fosse derrubá-las, ele dispensava o chimbal, porque com ele não havia groove, mas um eterno solo com muitas pratadas, bumbos duplos e movimentos de cabeça.
Quem é o melhor? Não sei. Talvez essa não seja a grande questão. Mais fácil é responder quem é o seu favorito. Analisando friamente, o Ian Paice parece ter uma grande vantagem sobre os outros: ele conseguiu sobreviver. Passar pela época de culto às drogas e sair ileso talvez tenha até diminuído seus feitos perante a história, pois não há dúvidas que os dois concorrentes – mortos pelo exagero – sejam mais conhecidos e celebrados. No entanto, a capacidade que Ian Paice ainda tem de ensinar, dar workshops e assinar autógrafos de pequenos entusiastas do instrumento, com certeza supera o glamour de uma lenda.
Quando ele toca parece dizer: “Olha nós éramos bons porque fazíamos assim, não porque éramos chapados”. Se Keith Moon estivesse vivo como o colega, talvez tantos bateristas não estivessem plagiando sua pose, mas, sim, sua musicalidade. Com sua imagem de vovô da bateria, ele poderia falar: “Olha, nós éramos parte de uma época de excessos que já acabou. Agora vamos tentar reinventar aquilo que eu tocava, porém dessa vez sem os terninhos e a panca de desajustado”.
Hoje, nós criamos muitos virtuosos e imitões, mas onde estão os salvadores de nosso tempo? Enquanto Deus não manda nenhum outro representante até a Terra, eu fico com aquele que já está um pouco gasto, mas está aí.
Bom, é melhor terminar esse post antes que ele vá para algum lugar mais inesperado do que este em que chegou. Mas antes, uma homenagem ao Ian Paice: meu disco favorita do Deep Purple, aquele que tem as músicas mais famosas da banda, o Machine Head, de 1972.
Eu gosto pacas do Kings of Leon, desde o primeiro CD. Os caras são fodas e, por isso, eu acho que eles merecem entrar nessa minha seção de "Novos gênios", que eu não repito desde meu segundo post. O último álbum, Because of The Times, é especialmente bom, mesmo sendo o trabalho em que eles tenham perdido aquela pegada mais country. Na minha opinião, saiu o country e entrou a maturidade. E parece que é essa mesma pegada que vem no disco novo, Only by The Night, que sai ainda neste mês de setembro e já tem single no MySpace. O título da música é "Sex On Fire". Vai lá!
Update O site do NME noticiou que o single do qual eu falei acima está em primeiro nas paradas inglesas, superando o tema infinitamente pior "I Kissed a Girl" da Perry, que está no topo desde o começo do mês passado.
Nasci em São Bernardo do Campo, cresci em Santo André e mudei para Campinas com 15 anos. Agora moro em São Paulo e faço jornalismo. Toco bateria. Gosto de coisas antigas (vitrolas, móveis Eames e fotografia analógica). Amo minha família, minha namorada e meus amigos de todas as épocas, inclusive os perdidos.
André Spera
Sou um pouco míope e sofro de rinite alérgica pela manhã. Na minha opinião Sgt. Pepper's... é mesmo o melhor, mas isso não quer dizer que os outros não possam tentar.No momento estou em fuga do jornalismo, mas por enquanto ele ainda pega no pé. Meu maior sonho é ganhar um milhão de dólares. Mentira. Não é não. Qual o seu?
P.S.:este perfil poderá sofrer mudanças sem aviso prévio. Talvez eu troque de nome.
Sou brasileiro, mas não nasci ouvindo samba ou mpb. Eu ouvia, quando moleque, o Athom Heart Mother que meu pai tocava na vitrola. Só sinto nostalgia mesmo quando ouço um Led Zeppelin III ou um Déjà Vu. Depois conheci o samba, e o Vermute que me perdoe, mas ainda prefiro o rock.
Caso o conteúdo deste blog ofenda artistas e/ou gravadoras, nos prontificaremos a retirar o elemento de atrito - mas é claro que não estocamos a encrenca. Cuidado. Agentes do FBI podem entrar na sua casa. Compre os discos se o preço não estiver um absurdo.