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domingo, 29 de junho de 2008

Motomix 2008

Já falei aqui como festivais de música parecem instalar um clima diferente na cidade. São Paulo, 28 de junho: Motomix, gratuito, Parque do Ibirapuera. Por motivos de força maior, consegui chegar ao local onde estava montado o belo e grande palco somente no final do show do The Go! Team e do Metric inteirinho. Que surpresa! Duas bandas diferentes, mas que conseguiram empolgar muito.



O sexteto inglês The Go! Team possui uma formação estranha.
Nos vocais a elétrica e maluca Ninja, dois bateristas, uma japinha maravilhosa na guitarra, um baixista e outro guitarrista. O som também é uma mistura inusitada de cantos de torcida com uma batida funk, guitarras distorcidas e um baixo pulsante. Não sei como comparar com alguém, ainda acho difícil classificar. Talvez um indie rock com forte influências do hip hop de Afrika Bambaataa? Sei lá. Quanto ao show, a palavra é impecável. O público presente gritou, chorou e esperneou por mais... A vocalista Ninja agradeceu de forma carinhosa aos fãs após encerrar o set com “Doing it right” e “Keys to the city”, duas das minhas favoritas.

O apresentador do festival Edgar (isso, aquele que era da MTV e depois foi fazer algo muito tosco no Multishow) até brincou: “Essa mulher é mais brasileira do que todos aqui presentes”. Em seguida, emendou: “Agora a banda mais dançante do indie rock!”. E então, a noite ficou mais linda.

A loirinha Emily Haines, deliciosa em seu conjunto de coro roxo colante, entrou no palco, se posicionou à frente de seu sintetizador e soltou uma voz graciosa e poderosa ao mesmo tempo. Canta muito! E essa banda canadense, presente desde 1998 com suas influências do post rock de 80, é realmente muito dançante. Variando entre baladas harmoniosas, ataques de riffs pesados e melodias doces que dão vontade de assobiar o dia inteiro, o Metric (leia-se Emily) conquistou meu coração.


No final, a loirinha desceu do palco, ficou frente a frente com a platéia e encerrou sua maravilhosa participação no Motomix. “Vocês deveriam sentir-se orgulhosos de poder morar em São Paulo”, falou Emily ao se despedir... É e eu fiquei orgulhoso de ter visto VOCÊ! Achei as músicas “Dead Disco” e “Monster Hospital” simplesmente perfeitas.

Vale a pena repetir. Moramos em uma cidade invejada por artistas de fora e que precisa de eventos gratuitos como este para que a movimentação cultural por aqui cresça ainda mais! O Motomix de ontem mostrou que é possível, que há retorno financeiro para as marcas envolvidas, e o público curte com mais liberdade um festival feito assim. Lanço aqui uma campanha para o FIM DO INGRESSO A R$ 300 e toda essa porcaria de superfaturar em shows medíocres.

Se você teve uma impressão diferente do Motomix mande o texto para o e-mail ferrugemnuncadorme@gmail.com

Puxa, vou radicalizar. Se quiser mandar uma resenha de show sinta-se à vontade. Afinal, não podemos estar em todos os lugares sempre!

Para quem se interessou, deixo aqui os links para download:



Live it Out
Metric
Lançamento original: setembro, 2005
Last Gang Records
Download: http://rapidshare.com/files/34473253/Metric_-_Live_It_Out.zip










Proof Of Youth
The Go! Team
Lançamento original: setembro, 2007
Memphis Industries
Download: http://lix.in/bfa76fed








Coloco também dois clipes. O primeiro é "Doing it right", The Go! Team. O segundo é "Dead Disco", Metric.



Voltamos!

Pois é, estivemos ausentes por exatos 20 dias. Mas o seu blog favorito de crítica musical voltou!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Faixa 6

Às vezes a gente gosta de uma música sem saber que artista a compôs, sem prestar atenção na letra, sem até ouvir com cuidado. Ao escutar um disco, essa frivolidade se perde um pouco: é impossível não saber quem está cantando, a que estilo aquela banda pertence etc. Invariavelmente, você tem o encarte para consultar letras, ano de lançamento e outros dados. Se você baixou o disco da internet, no mínimo, a imagem da capa faz parte do pacote.

Enfim, certas músicas arrepiam a nossa espinha, mas a gente não sabe dizer o porquê. “Summer of 69”, de Bryan Adams, é uma delas. Nunca dei muita bola para a letra e por muito tempo fique sem saber exatamente de quem era, o que fez com que cada vez que eu a escutasse um sentido novo surgisse. Ela me lembra de fim, mudanças... Um monte de conceitos bem abstratos e bestas que só fazem sentido para mim. Qualquer crítico que falasse mal desse tema, por mais argumentos lógicos que utilizasse, estaria me falando um monte de asneiras.

Não me importa que a música faça parte de um álbum chamado Reckless, um dos mais bem sucedidos da carreira de Bryan Adams. Mesmo tendo sido lançada em 1985, essa música está fora do tempo para mim. Não como “Heaven” – que também faz parte do álbum –, mas tem uma sonoridade muito datada e brega (apesar de ser bem legalzinha). Todo o resto do disco é feito sob uma pretensão muito típica dos anos 80 de transformar todas as músicas em grandes hinos. Basta dizer que Tina Turner participa de “It’s only love”. Ela é uma das principais autoras dessas músicas empolgantes como “He’s simply the best” e “We don´t need another hero”.

Bom, tá aí outro sucesso. Acredito que mais pessoas tenham ouvido exaustivamente músicas desse disco, já que elas tocaram bastante nas rádios. "Summer of 69" já repetiu tanto que até perdeu um pouco o valor, mas com certeza ela ainda dá saudades em alguns melancólicos.


Ficha técnica


Bryan Adams - Reckless
Lançamento Original: 1985
Gravadora: A&M


Músicas para download


1. One Night Love Affair
2. She's Only Happy When She's Dancin
3. Run To You
4. Heaven
5. Somebody
6. Summer Of '69
7. Kids Wanna Rock
8. It's Only Love
9. Long Gone
10. Ain't Gonna Cry



domingo, 8 de junho de 2008

Relato de um jovem crescido no anos 90 ou Apresentando Gilbert O'Sullivan

o post de domingo vem em forma de devaneio, é uma espécie de comentário rápido, com um plus: um link para download... Surpreso?

Alguns artistas têm o dom de acertar a mão na mesma proporção em que erram feio.
É basicamente assim que eu acredito resumir algumas carreiras. No caso, o trabalho irregular mas cheio de belas canções mid-tempo do irlandês Gilbert O'Sullivan. E é claro que se você, assim como eu, anda na casa dos 21, 22 anos, provavelmente não o conhece.

Hitmaker dos anos 70, O'Sullivan se tornou mundialmente conhecido por conta do belo hit “Alone Again”, que seus pais com certeza se lembrarão de ter ouvido muito nas rádios e nas festinhas regadas a tubaína... ou não né? Não fiz uma pesquisa de ambientação para escrever hoje, quer dizer, eu nunca fiz. O lance é que se você for com boa vontade e mergulhar em uma coletânea do sujeito, você vai encontrar algumas canções bem bregas, verdadeiros erros de arranjo, junto com algumas pérolas, criações pop perfeitas, que chegam a doer de tão bonitas. É o belo caso da canção que citei anteriormente.

Topei com “Alone Again” absolutamente sem querer, em uma coletânea em CD que encontrei em casa, dessas que não existem mais depois do MP3. Isso é tão começo dos anos 90, não é? Eu nem sabia do que se tratava, mas logo no começo a voz de O'Sullivan me fisgou: era muito parecida com a voz do dublador do seriado Doug, que ainda era genial e passava na Cultura – é, eu sei que você também assistia. Junto com isso, a harmonia da música, a maneira como ele conduz a narrativa da história e o arranjo, todos esses elementos me chamaram a atenção. Até hoje, é uma das minhas músicas favoritas, se esse tipo de lista fosse de fato possível ou justo de se fazer. No disco vinha mais uma dele, também boa demais, “Nothing Rhymed”, ainda mais doída e também composta de maneira perfeita. Não falta nada ali, é uma aula de como compor uma boa música radiofônica – assim como Bread, por exemplo. David Gates também é um baita professor.

Bom, antes de eu continuar, assista essa apresentação de O'Sullivan com o clássico “Alone Again”.




Bela canção, não é?

Hoje pela manhã, com ela na cabeça, comecei a fuçar um pouco e acabei caindo na página do cabeludo (ainda hoje), e ouvi uma música nova dele, do último disco. “Force of Habit” é mais uma música linda do cara. Me assustei até – e comecei a procurar o disco inteiro, chamado A Scruff at Heart. A minha feliz surpresa é que esse disco é aquele que ele deveria ter feito há muito: canções simples, quase que somente gravadas pela sua voz amigável e o piano. Deixo aqui o mesmo link que encontrei. O disco saiu por um selo pequeno da Irlanda, ao que me parece, ou seja, não é fácil de encontrar por aí, mas vale demais a pena. É um álbum sincero, despretensioso e belo. Uma lição a ser aprendida.

sábado, 7 de junho de 2008

Novo Coldplay no myspace.com


Se você tem conta no myspace.com, então já pode ouvir o novo disco do Coldplay (na íntegra) - é o que eu estou fazendo agora. É verdade que ouvi algumas críticas frias em relação ao disco, comentários pouco animados. Não posso concordar totalmente já que, ao que me parece, a produção de Brian Eno fez uma diferença tremenda. Se você se decepcionou com o Red Album do Weezer, talvez seja essa a nova opção de melhor do ano.
www.myspace.com/coldplay

Atrevo-me a dizer que não só a banda conseguiu não se repetir como também foi corajosa com arranjos realmente impressionantes como o da música "42" - Talvez a melhor do disco. Agora, é claro, todos acabam faturando: você ouve o disco, eles criam o frisson e o myspace acaba ganhando um monte de usuários novos. Estranho notar somente o seguinte, alguns países da Europa como Bélgica e Holanda, junto com os EUA (!!!) não podem ouvir o disco, mas é claro que há como esconder o IP...


segunda-feira, 2 de junho de 2008

Mestres do Groove

Eu já imaginava que a minha visita ao Borboun Street, famosa casa de shows em São Paulo, seria de graça. É a vida de um protótipo de jornalista do interior na capital brasileira da cultura: o que é de graça a gente traça. Mas é impossível reclamar depois de acompanhar uma das melhores apresentações ao vivo que já presenciei, o monstruoso jazz-funk do Godfathers of Groove, na terça-feira passada, dia 27 de junho, me deixou extasiado.


São três dos melhores instrumentistas desse estilo único que une o melhor de James Brown com a belíssima capacidade de improvisar dos mestres do jazz: Rueben Wilson, inabalável com seu Hammond B3 (pela primeira vez vi que um baixo não faz falta ao funk), Grant Green Jr., dono de um vozeirão impecável e mestre no solo oitavado, e o baterista Bernard "Pretty" Purdie, inventivo, simpático e que exalava groove.

Esses caras aí tocaram com alegria, sorriram com o público e demonstraram que virtuosismo é pura magia quando utilizado a favor da música. Ao lado de uísque e canapés chiquíssimos, o melhor do cardápio: uma mistura de soul, funk e jazz contagiante. Tocaram de tudo, desde a clássica trilha sonora de James Bond a "What's Going On", de Marvin Gaye. Esta música, aliás, pegou a galera de surpresa no Bourbon. Foi o último set do show e as cocotas já demonstravam cansaço, irritação ou simplesmente má educação. Mas foi logo Grant Green abrir a boca e soltar as primeiras palavras... "Mother, Mother"...

Delírio.

A minha adoração já havia se tornado completa quando, um pouquinho antes, os três negões emendaram uma versão funk da música "Sookie Sookie" com uma batida completamente nova para mim, a chamada "Purdie Shuffle". Puta merda! Conhecia uma versão feita pelo Steppenwolf em 1968 e desconhecia seus autores (Don Covay e Steve Cropper). Essa batida, aliás, é de autoria do baterista gordinho Bernard Purdie, que subverteu o tradicional shuffle (ouça "Poorboy Shuffle", do Creedence Clearwater Revival, ali em baixo) e o deixou cheio de veneno, com um groove inexplicável.



Confira o currículo das feras neste endereço: http://www.jwpjazz.com/masters.html

Outra opção: veja o vídeo promo de quando a banda era chamada Masters of Groove e contava ainda com o baixista Jerry Gemmott na formação


O grande solo de Stephen Stills


...e a música rock retorna ao Ferrugem...

Brigas, discussões e um enorme embate de egos fizeram com que o supergrupo Crosby Stills Nash & Young se dissolvesse rapidamente. O sempre lembrado álbum Dejà Vu, de 1970 – o primeiro a abraçar o rabugento Neil Young – serviu na verdade como uma foto - vide a capa do álbum - de um momento sensacional dos quatro artistas, mas assim como a imagem das polaroids, o grupo foi passageiro. É claro que eles iriam voltar a gravar juntos, contudo, poucos acreditam que Dejà Vu não é o melhor trabalho do grupo como quarteto.


Em 1971, a turnê do disco, que deu origem ao sensacional ao vivo Four Way Street já havia sido tumultuada – e talvez isso só tenha feito com que o apetite de Stephen Stills para um trabalho solo fosse ainda maior. Não foi diferente, ainda que o álbum Manassas de 1972 seja na verdade o disco da banda de mesmo nome. Não faz diferença, e eu inclusive me atrevo a dizer que, se você quer realmente entender Stills, então é como se esse disco fosse simplesmente toda a musicalidade do guitarrista em um disco.


Lançado originalmente em um vinil duplo, as canções dos quatro lados do álbum são divididas em grupos temáticos – e eu só estou escrevendo isto por curiosidade, na hora de ouvir você pode muito bem esquecer isso: The Raven são canções mais chegadas as rock e aos ritmos latinos que Stills sempre gostou e inseriu em suas canções. The Wilderness é principalmente country e o animado bluegrass. Consider abre espaço para o folk e folk-rock e sim, nesta parte, muitas vezes existe a sensação de que a sua guitarra está de mãos dadas com a de Neil Young, o que é natural, já que foram parceiros em mais de uma banda. Quer mais uma coincidência curiosa? Ótimo. A última parte do disco é Rock & Roll is Here to Stay, com um rock mais cru e blues, gênero em que Stills sempre foi um prodígio. Muita atenção a “Treasure”, e a “Blue Man”, dedicada a Jimi Hendrix, Al “Blind Owl” Wilson e Duane Allman.


Momento trivia: Bill Wyman, baixista dos Stones, ajudou Stills a terminar “The Love Gangster”. Na verdade Wyman se empolgou tanto com o disco que teria saído dos Stones para se juntar ao Manassas. Ninguém o convidou, entretanto, a história provaria que os Stones ainda durariam algumas pequenas décadas – Wyman sairia da banda apenas em 1993! - e o grupo de Stills, ainda que com este trabalho sensacional, foi uma experiência efêmera que lançou mais um disco, sem o mesmo brilho ou inspiração.


Ficha Técnica

Stephen Stills – Manassas

lançado em 1972, pela Atlantic Records

Produtor: Stephen Stills, Chris Hillman e Dallas Taylor

Músicas para download

(cada suíte corresponde a um lado do LP, mas não se assuste, você baixa tudo de uma vez só, em um arquivo com ótima qualidade)

The Raven

  1. "Song of Love" – 3:28

  2. Medley – 3:34

    "Rock & Roll Crazies" (Stephen Stills/Dallas Taylor)
    "Cuban Bluegrass" (Stephen Stills/Joe Lala)
  3. "Jet Set (Sigh)" – 4:25

  4. "Anyway" – 3:21

  5. "Both of Us (Bound to Lose)" (Stephen Stills/Chris Hillman) – 3:00

The Wilderness

  1. "Fallen Eagle" – 2:03

  2. "Jesus Gave Love Away for Free" – 2:59

  3. "Colorado" – 2:50

  4. "So Begins the Task" – 3:57

  5. "Hide It So Deep" – 2:44

  6. "Don't Look at My Shadow" – 2:30

Consider

  1. "It Doesn't Matter" (Chris Hillman/Rick Roberts/Stephen Stills) – 2:30

  2. "Johnny's Garden" – 2:45

  3. "Bound to Fall" (Mike Brewer/Tom Mastin) – 1:53

  4. "How Far" – 2:49

  5. "Move Around" – 4:15

  6. "The Love Gangster" (Stephen Stills/Bill Wyman) – 2:51

Rock & Roll is Here to Stay

  1. "What to Do" – 4:44

  2. "Right Now" – 2:58

  3. "The Treasure (Take One)" – 8:03

  4. "Blues Man" – 4:04